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«A violência doméstica é um fenómeno transversal à sociedade»

Cara a Cara – Entrevista: Ângela Santos

P – Em pouco mais de cinco meses, o Gabinete de Apoio a Vítimas de Violência Doméstica atingiu os 100 atendimentos. É um número que era expectável?

R – À partida não, porque estávamos à espera de 100 atendimentos por ano. Uma vez que atingimos esse número em cinco meses, de certa forma ultrapassou as nossas expectativas iniciais. Em simultâneo, temos 13 pessoas a serem acompanhadas psicologicamente.

P – É um indicador preocupante esta centena de pessoas atendida?

R – Depende da forma como interpretamos esse número. Pode ser preocupante, mas também pode ser visto de uma forma positiva, pois significa que a divulgação está a ser feita e que as pessoas têm cada vez mais a noção de que podem recorrer a entidades que as podem ajudar na resolução da sua situação.

P – Considera que ainda há pessoas que têm medo de denunciar a violência doméstica de que são vítimas?

R – Para serem atendidas no Gabinete as pessoas não têm obrigatoriamente de vir denunciar uma situação de violência doméstica, nem apresentar queixa, mas é uma realidade que continuam a existir muitas pessoas que têm muito medo, quer de denunciar, quer de vir ao Gabinete e contar o seu caso.

P – As vítimas são todas do concelho da Covilhã?

R – Não. Temos do concelho da Covilhã, mas também do Fundão, de Belmonte e de Castelo Branco, até porque a nossa área de intervenção abrange todo o distrito. Contudo, a maior parte é do concelho da Covilhã, porque também é aquele que está mais próximo.

P – Há um perfil-tipo das vítimas atendidas?

R – Não. Pode dizer-se que as mulheres são a grande maioria, mas tirando isso não existem idades, nem classes sócio-económicas mais atingidas. A violência doméstica é um fenómeno transversal à sociedade.

P – Também há homens e pessoas de estratos sociais mais altos a procurarem o Gabinete?

R – Também há alguns homens que já recorreram ao Gabinete por serem vítimas de violência doméstica. Por outro lado, há mesmo pessoas de todos os estratos sociais a recorrerem aos nossos serviços.

P – Há dados que revelam que o desemprego é um factor que pode originar um aumento da violência doméstica. Isso confirma-se?

R – Sim. Temos pessoas que dizem que a situação dantes estava mais estável e desde que o cônjuge ficou desempregado há mais tempo, por exemplo, para que o mesmo tenha comportamentos aditivos como o consumo de álcool e de drogas. Também passam mais tempo juntos e há uma maior fricção entre o casal, o que revela que a crise económica também agrava o problema da violência doméstica.

Ângela Santos

«A violência doméstica é um fenómeno
        transversal à sociedade»

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