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A vingança da sova brutal

No dia 25 de outubro o Partido Socialista teve uma epifania tremenda: descobriu que o Presidente da República lhe tinha passado uma rasteira, porque no dia 17 de outubro tinha feito um discurso a exigir as medidas que já sabia que o Governo ir tomar.

O PS foi rápido: percebeu que fora enganado em menos de 10 dias. Pelo meio demitiu-se uma ministra, houve uma tomada de posse e um Conselho de Ministros. Reinou o silêncio… mas no dia 25 e 26 várias coisas aconteceram.

Primeiro, o jornalista Simões Ilharco, que quem não conhece sabe não ser propriamente alguém que se considere uma águia, escreve no “Ação Socialista”, órgão distrital e oficial do PS, o seguinte: «Marcelo exorbitou, claramente, dos seus poderes constitucionais». Algo que contradiz o insuspeito, estudioso e especialista Vital Moreira, que pensa o contrário, mas adiante. Continua Ilharco: «Subvertendo o semipresidencialismo, se caminha para o presidencialismo. A esquerda deve estar unida e coesa, para impedir esta caminhada preocupante e perigosa». Mais à frente, ainda, considera uma declaração de Marcelo «corriqueira» e revelando «demagogia e populismo». O Presidente, afirma, «parece querer assumir-se como homem providencial, como salvador da pátria, mas olhe que a pátria está boa e recomenda-se! Os incêndios não vão afetar eleitoralmente o PS». (E eis o que interessa, verdadeiramente, os votinhos). No dia seguinte, o “Público” refere uma fonte não identificada do Governo a dizer que o Executivo ficou «chocado com Marcelo». Um membro do Secretariado do PS, já no dia 26, ao ler o “Público”, diz que o Presidente «passa rasteiras» e que «isto configura uma inaceitável aproveitamento politiqueiro de uma enorme tragédia (…)».

Tardou, mas o Governo percebeu que tinha levado uma sova. Com ou sem razão, uma semana depois queixa-se. Acreditarão que alguém (salvo os convencidos e o jornalista Simões Ilharco) crê neles? Mas porquê agora este ataque ao PR?

Respondo: quer agradar à sua esquerda e à esquerda que o apoia. Faz a sua parte com Costa em silêncio. É que sobre aproveitamentos politiqueiros não lembrem como o líder chegou ao poder no PS e no país… Isto não passa de um copo de água numa tempestade. Não troquei os termos por acaso… O furacão Marcelo vítima de ataques soezes do Governo? Não podia o próprio desejar melhor!

Por: Henrique Monteiro

* Jornal “Expresso”

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