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A vez das bandas de garagem

Tudo começa com a música. Depois juntam-se os instrumentos, a vontade e o prazer de tocar para os outros. Das garagens para os palcos, as bandas querem sair das “quatro paredes” e mostrar-se não só aos guardenses, mas a quem as quiser ouvir.

A Cepa Torta

Naturais da Mêda, André Branco (18 anos, baterista), Bernardo Esteves (20 anos, baixo) e Carlos Fial (30 anos, guitarra e voz) arrancaram em agosto de 2010 com A Cepa Torta. Cultivando um rock alternativo, este grupo de amigos começou pelos “covers” das bandas comerciais, com um pouco de blues e rock. O nome da banda foi escolhido com «o propósito de frisar a má rês, o estado caduco», justifica Carlos Fial. Com o tempo, os originais e a vontade de fazer música própria surgiram com naturalidade, o que levou a banda «a encontrar a sua razão de ser», considera. Para o vocalista, o importante é «fazer música pela música e não pelo produto».

A oportunidade de tocar nalguns bares da cidade esbate, por vezes, num público que procura «música mais comercial» em vez dos temas da banda. «O que é compreensível porque a Guarda não tem o mercado de Lisboa ou Porto», entende Carlos Fial, que salienta a «boa receção» por parte do público. Os principais obstáculos são a interioridade e os custos, já que «não é fácil chamar a atenção» e gastam-se «pequenas fortunas» com o material, adianta. Os objetivos mais imediatos são gravar em estúdio e acabar um EP.

Double Latte

Uma das bandas mais jovens da cidade segue o rock alternativo e conta já com dois anos de “estrada”. Gabriel Moreira (16 anos, guitarra e voz), João Balau (17 anos, bateria), João Silveira (16 anos, teclas), Matthew Pacheco (17 anos, guitarra e bandolim) e Pedro Pereira (16 anos, baixo) formam os Double Latte, que começaram em jeito de brincadeira «quando o João Balau comprou a bateria», recordam os membros da banda. O «amor pela música» uniu-os como grupo, mas também como amigos. A diversão é um dado garantido que se alia à vontade de «chegar o mais longe possível» e gravar um EP «para podermos mostrar do que somos capazes», defendem.

Apesar de não terem a adesão desejada, as «pessoas interessadas são cada vez mais», juntando-se a familiares e amigos, que desde o início se mantiveram fiéis aos Double Latte. Todavia, a preferência por outro tipo de música já fez com que a banda não sentisse o apoio do público em palco, o que é «uma das piores coisas que pode acontecer», consideram. Sem atuações fora da região no currículo, a banda aguarda essa oportunidade para «tocar para públicos diferentes e aumentar o número de fãs». Para os Double Latte, o principal entrave são os custos com o material, pelo que a ajuda de terceiros tem sido muito importante. No entanto, «os obstáculos não nos derrubam e tentamos superá-los pouco a pouco», reiteram.

Harlot Queen

«Faltava um pouco de rock à cidade», disseram em 2011 a O INTERIOR. Quase a assinalar dois anos de “rock ‘n rol”, os Harlot Queen contam muitos quilómetros percorridos e um EP com cinco temas lançado recentemente. Pedro Miguel (teclas e voz), Diogo Pereira (guitarra e voz), Luís Almeida (bateria) e Pedro Lavajo (baixo) não querem ficar por aqui e ambicionam gravar todas as suas canções originais, que já são cerca de 20. Os jovens guardenses, que estudam em Coimbra, Porto e Lisboa, têm de fazer um esforço extra para ensaiar e dar concertos, mas «temos conseguido gerir isso, o pior são as épocas de exames», adianta Diogo Pereira.

A cidade em que atuam «torna tudo mais difícil», como arranjar patrocínios, que são apenas de parentes e amigos. «O facto das editoras pequenas estarem a “morrer” não ajuda», acrescenta o vocalista. Contudo, «melhorámos muito ao longo deste percurso», afirma. Já tocaram um pouco por todo o distrito e chegaram à “finalíssima norte” do concurso do Avante. «Também surgimos num bom momento para as bandas da Guarda, porque há cinco anos os bares optavam pela música eletrónica», recorda Diogo. Desta experiência acumulada guardam sobretudo as histórias e os momentos partilhados com o público. «Ter uma canção nossa a passar na rádio» é um dos “sonhos”, confessa o vocalista.

Join the Vulture

O currículo dos Join the Vulture é longo. Entre vários prémios em concursos, concertos em semanas do caloiro e cerca de 50 presenças em bares do distrito, a banda prepara-se agora para as meias-finais do concurso nacional “Hard Rock Rising”, a 11 de março. José Amado (27 anos, voz) e Pedro Rosa (21 anos, guitarra) juntaram-se a Emanuel Gouveia (27 anos, baixo e voz), Miguel Fernandes (23 anos, guitarra) e Ivo Tenreiro (25 anos, bateria) – oriundos de outro projeto – em novembro de 2010, formando um grupo que viaja entre o rock, punk rock e pop rock.

«Começou com a vontade de tocar, fomos ensaiando e as coisas fluíram naturalmente», referem. «Da parte do público há um “feedback” animador e encorajador», consideram. No ano passado lançaram um EP com seis temas originais (editado pela “Coghwell Records”, de Coimbra), gravado, misturado e masterizado por Duarte Feliciano. Este ano deverá chegar o primeiro álbum, com cerca de 15 faixas. A banda toca “covers” «com um cunho pessoal», mas assume como base a música própria. Conciliar horários – com alguns elementos no ensino superior – é uma das dificuldades, assim como o preço do equipamento. Naturais do concelho de Almeida, os membros da banda destacam o apoio dos amigos e da Associação Desportiva, Cultural e Social da Aldeia de São Sebastião, pois «sem eles não teríamos este projeto», salientam.

The Curimakers

Separados pelas distâncias, os The Curimakers unem-se pelo gosto da música. Tozé Novais (teclas e “back vocals”), Susana Ferreira (“back vocals”), Curi (voz e guitarra acústica), Armando Almeida (guitarra elétrica), Francisco Martins (bateria, percussão e “back vocals”), Paulo Pereira (baixo), Rui Silva (trompete) e Gabriel Neves (saxofone) formaram a banda em 2010 com a gravação do CD “Spilt in Two”. «A ideia dos The Curimakers partiu de alguns elementos da Banda Jota que quiseram trabalhar comigo e com o Tozé», recorda Curi. A residirem em Seia, Guarda e Aveiro, os elementos não têm tempo para ensaiar, pelo que «um ou dois ensaios têm de render para uma época», salienta o vocalista, destacando a importância da partilha facilitada pela Internet.

O estilo musical divide-se entre o pop, o soul e o funk, com um álbum nas ambições para 2013. A receção «excelente» de guardenses e senenses tem ajudado os The Curimakers «a crescer, a consolidar-se e projetar-se», considera Curi. Um dos objetivos passa pelo conhecimento a nível nacional, «fazendo esforços diários para a nossa internacionalização», sublinha. A banda já viajou um pouco por todo o país, com destaque para atuações nas lojas FNAC de Lisboa, Leiria, Coimbra, Guimarães, Braga e Gaia. «Um artista não se faz só cantando e tocando, é preciso preparar o cenário, a iluminação, as roupas e as frases, entre outros aspetos», sublinha Curi.

Sara Quelhas

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