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A verdade não só inconveniente, como também um bocado chatinha e, digamos, aborrecida

observatório de ornitorrincos

No momento em que escrevo, estão na rua 3º C. (O leitor mais informado entenderá que estes 3º são um exagero literário. Na realidade estão 5,5º. O leitor menos informado julgará que 3º C é o número de algum apartamento onde se vende droga. Nesse caso, o leitor deveria informar-se melhor. A droga vende-se no 3º E.)

Escrevendo com outras palavras (porque se fosse para escrever com as mesmas não era preciso escrever, bastava fazer copiar e colar no editor de texto) está um frio do caraças. Sou informado que o Verão começa lá para o fim da semana e sinto um arrepio. Alguém deixou a janela aberta. Está a chegar o Verão e um tipo ainda precisa de cachecol para andar em casa e galochas para sair á rua. É por estas razões que nos devemos preocupar com o aquecimento global. A nós, afinal, não chegou. Aposto que isto se deve ao protocolo assinado em Quioto para travar o aquecimento. Os países europeus empenharam-se tanto nisso (em assinar, não em cumprir o que quer que seja) que agora, em vez de aquecer, a Europa está a arrefecer. Também acredito que os fundamentalistas religiosos (cristãos, muçulmanos e gajos ciumentos), gente ciosa do corpo feminino sempre que se exponha fora das casas de meninas que frequentam, tenham aprendido a controlar o clima e hajam posto fim de uma vez à canícula estival para acabar com as mini-saias turísticas e os decotes paisagísticos na população feminina, também designada sociologicamente por “mulherio”.

Como defensor de direitos humanos universais, discordo da distribuição mundial da subida da temperatura média. Não encontro razões para que a Península Ibérica não sofra também um bocadinho desse aquecimento. Preocupa-me menos a distribuição desigual de riqueza, porque para ter dinheiro pode-se sempre roubar ou ganhar o Euromilhões. O estio não. Ou se tem ou não se tem. Veja-se o caso de países muito ricos como a Suíça ou o Canadá, onde a estação quente são seis horas de sol e temperaturas acima dos 25º. (O Canadá vive ainda outra situação incómoda no Verão. Durante essas horas, Celine Dion sai de casa e canta para todos os canadianos. Sem microfone.)

É importante alertar todos os cidadãos para o aquecimento global e mostrar-lhes que não chega. Provavelmente não se atingiu a consciência ambiental necessária para que todos contribuam para um mundo melhor e mais quentinho. É preciso libertar mais CFC’s para a atmosfera. Queimar mais combustíveis fósseis. O efeito de estufa de que tanto se fala é afinal um efeito refrescante. É uma estufa com ar condicionado. A Terra, que se dizia estar a caminho de ser um gigante microondas, não tem passado estas últimas semanas de um frigorífico de campismo, daqueles que tanto congela como pinga.

Perante estas alterações climáticas profundas há, como sempre e para todas as coisas, uma réstia de esperança que nos incita à resistência (excepto André Sardet e os Pólo Norte, nestes casos não há nada a fazer). Algo que não olha ao frio da realidade e não se esquece do calor das memórias. Que nos relembra tempos antigos, quando as molhas a meio de Junho se apanhavam na piscina e não a caminho do emprego. Falo, obviamente, da nova série de ficção científica, as férias de Verão dos Morangos com Açúcar.

Covilhã, Círculo Polar Árctico

19 – 06 – 07

Por: Nuno Amaral Jerónimo

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