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A usura dos membros da confissão católica

É bem conhecido o texto de Max Weber (Erfurt, 21 de Abril de 1864 — Munique, 14 de Junho de 1920) sobre A ética protestante e o Espírito do capitalismo, de 1905, resultante do trabalho de campo que Weber fez entre os católicos no sul do rio Elba (Alemanha). Embora de fé agnóstica, toda a sua obra está dedicada à religião. Estimando que a dedicação ao credo e à fé, enriquece os protestantes, isto é, os cristãos separados da Igreja Católica Romana no Século XVI.

A sua curiosidade científica levou-o, em 1888, a morar entre católicos alemães, para entender a sua pobreza e comparar essa condição com a dos protestantes, que eram ricos ou tinham uma ética da riqueza.

A obra e hipótese de Weber, sobejamente conhecida, centra-se nas causas da pobreza dos católicos. Já antes do Século XIX os protestantes eram proprietários de fábricas, indústrias e (extensas) terras, trabalhadas pelos que nada tinham – os católicos romanos.

Eu próprio, tenho escrito e orientado teses sobre esta temática. Mas nunca comentei estas ideias que, no decorrer do tempo, fui pensndo, baseadas nas ideias do meu amigo e colega em Cambridge Anthony Giddens, actualmente director ou presidente da London School of Economics. Na introdução ao seu livro de 1985, chama a atenção, desenvolvida ao longo de todo o texto de 292 páginas, sobre a fé de luteranos e de católicos. Os luteranos tinham o anseio de salvar a sua alma, como mandava e explicava Lutero na sua obra do Século XVI, especialmente no Catecismo e no ensaio de 1517, The ninety-five thesis, onde acusa o Papado Romano de viver no meio do esplendor, da riqueza, da fulgura e com vestes de veludo adornadas com diamantes, bordados de ouro, brilhantes e coroas de prata. Acusa os romanos de se terem afastado do exemplo da pobreza de Jesus, dos apóstolos e dos primeiros cristãos, que eram perseguidos e trabalhavam como escravos dos romanos, até atingirem a liberdade com a conversão ao catolicismo do Imperador Constantino II, que reescreveu todas as leis no Século IV, para favorecer os cristãos podendo assim serem autónomos e proprietários das suas terras e artes, invadidas pela Roma Imperial antes do seu reinado. As leis, ou Codex Constantinum, de 8 textos, iniciadas em 535 da nossa era, foram finalizadas pelo seu sucessor Teodoro I da Arménia(PE) ou Armênia(PB), Թորոս Ա em arménio, Toros por transliteração (morto em 17 de Fevereiro de 1129) foi príncipe arménio da Cilícia de 1102 até à sua morte. Filho e sucessor de Constantino I da Arménia, foi o terceiro soberano deste domínio pertencente à dinastia dos rubenidas (descendentes de Ruben I).

A preocupação nesses tempos, era a de entrar na eternidade, ao pé de Deus. A condição era ter a alma limpa, distinção feita pelos gregos porque o corpo morria, mas a alma, parte do ser (pessoa), era imortal e devia prestar contas à divindade dos seus actos. Ao ser aprovada, entrava na Glória Divina; caso contrário, iria morar com Belzebu, o anjo rebelde, que ao entrar em guerra com o seu criador foi expulso da vida eterna para um inferno que nunca parava de arder. Sítio reservado aos rebeldes para arderem pela eternidade. Não havia a noção de purgatório, criado pelos romanos no Século XVI, na contra reforma do Concílio de Trento; Concilio que tentara que Lutero e Calvino, considerados os dois melhores teólogos da cristandade, não se afastassem da Igreja Romana. Mas eles tinham a sua ética, baseada na pobreza.

A forma de vida dos cristãos que se afastaram da Igreja, era austera, pacata, os Domingos, passados em silêncio, eram dedicados à leitura Bíblia, até as gaiolas dos pássaros eram cobertas com um pano negro, facto desnorteador das aves que não cantavam. Eu próprio o pude presenciar quando vivia e estudava na Presbiteriana Escócia (reino autónomo até ao Século XVI), criada por John Knox seguidor da fé presbitéria, após a morte da rainha Maria Stewart ou Estuardo, Católica que teve de procurar refugio na Inglaterra da sua prima consanguínea, Isabel I. Prima que nunca a amparou, pelo contrário, manteve-a prisioneira durante 20 anos até ser guilhotinada pela cruel Isabel, que havia roubado o filho de Maria, criando-o como se fosse seu filho. Á morte de ambas, Jacobo herdou o reino da sua mãe, como VI, e da tia, como James I, completando a separação entre romanos e ingleses, acabou essa extensa fundação de fé anglicana.

Estes factos, levaram à vida de pobreza dos separados plebeus, mas ao esplendor das cortes que herdara.

Esta é a entrada para falarmos sobre o capitalismo dos separados (EU PORIA PROTESTANTES EM VEZ DE SEPARADOS), que escondiam os tesouros e investiam no comércio e bens de lucro, que não usavam. A sua dúvida, definida pelo próprio Lutero, passava pela incerteza da salvação.

Para os católicos era diferente. Tinham conservado um sacramento, o da confissão. Os separados (EU PORIA PROTESTANTES EM VEZ DE SEPARADOS) também a tinham, mas era pública e sem perdão, corntraiamente à dos católicos, que é privada e com concessão de perdão. No Século IV, ano 412 da nossa era, no livro de Agostinho de Hipona, Santo Agostinho para os Católicos, intitulado A cidade de Deus, o autor receava que a alma podia ser perdida, mas após o Concílio de Trento, o debate foi fechado por São Pío V, o derradeiro Papa a presidir um Concílio de 40 anos. Desde esse dia, os católicos nunca mas tiveram medo e viviam como entendiam.

A usura dos católicos era alta. Por dinheiro emprestado, cobrava-se um juro superior ao estabelecido por lei ou pelo uso. Tudo acontecia pelas palavras em nome de Deus. Era um contrato legal, se fosse feito conforme a lei. Mas, os católicos não tinham medo da lei: havia, mais uma vez, a confissão. Por serem muito pobres, havia sempre dinheiro pedido por empréstimo, dinheiro nunca mais devolvido. A usura católica era uma brincadeira de mau gosto, mas o dinheiro era tão importante, que os mais pobres andavam sempre a dever e os mais ricos a cobrar e a juntar importâncias tão altas, que fez deles membros do clube da ética do capitalismo, pondo de parte a divindade a que deviam respeito. Respeito definido pelos evangelhos como solidariedade, amor ao próximo e ajuda aos desvalidos.

Conceitos que, ainda hoje, estão dentro da minha cultura, que orienta o meu comportamento e o dos outros. Não é em vão que tenho (TU OU O AQUINO???) estudado os Padres das várias confissões, desde Xristos, até Alfarrábio, o muçulmano que tinha lido Aristóteles, apesar da proibição de Mamede no Alcorão: a proibição não era ler Aristóteles, era ler qualquer livro que não fosse o sagrado Alcorão. Não é em vão que Tomás de Aquino desobedece aos seus superiores e lê Alfarrábio ou Al-Farabi, e assim aprende as lições de Aristóteles. Tenho explicado esta ideia no texto intitulado A religião é a lógica da cultura, publicado no livro colectivo organizado pelo académico da UBI, Donizeti. Rodrigues: Em nome de Deus. A religião na sociedade contemporânea, Afrontamento, Porto, 2004.

A procura do saber teísta, é uma atracção para os cientistas que desejam saber o que é que leva as pessoas a dedicarem o seu tempo ao trabalho, e qual a lógica que as orienta. É o que faz Tomás de Aquino no seu livro de cinco volumes: Summa de Teologia, escrito entre 1267 e 1273. Explica e condena a usura, juntando-a com a avareza, esse apego sórdido ao dinheiro e à sua acumulação. Assim, é definido por Weber para os luteranos e para os católicos ricos. Estes últimos, esquecem-se dos seus deveres religiosos, mas aparecem como homens de fé perante o seu grupo social, que sabe não ser um comportamento verdadeiro. Moliére, (Jean-Baptiste Poquelin) (1622-1673) Século XVII, satiriza em O Avarento, o ser humano católico que não perdoa as dívidas e pune tanto quanto pode. Era a época do catolicismo duro e cru.

Comportamentos que chamam a atenção de Max Weber. Quanto a posses, há diferenças, quanto a dinheiro, depende da capacidade de acumulação, usura e avareza. Eis a diferença: entre luteranos, não se falava de bens e dinheiro; entre católicos, a avareza, a usura e a acumulação para lucrar, é o centro das conversações.

Ora as teorias Weberianas são importantes para entendermos as causas das duas crises que vive Portugal: financeira e política. Tinha já abordado esta problemática da nossa nação, mas somente hoje pensei que Weber já as tinha explicado. Pelo que apenas o acrescento aos meus outros ensaios sobre quem nos governa, e a abundante usura e avareza dos nossos associados da União Europeia. Em frente de nós, temos a vida católica que gasta sem cálculo, não mede as consequências das elegâncias no vestir, no novo carro, no telefone, mil vezes usado, e apenas treme quando aparece a conta. Uma mulher muito católica, a nossa mãe, esbanjava o dinheiro em festas e caridades. Velha já, os filhos e os netos tomaram conta dela, dos seus gastos foi necessário proibir o desperdício do dinheiro, mais agudo, aos noventa anos. Católica ultramoderna, nem contas fazia, como a família toda. Eram as modas…eram os tempos. Como estes católicos, muitos encontrou Max Weber na sua pesquisa, donde a usura aparece e a avareza faz-se necessária.

O capitalismo, em consequência, nasce com os luteranos que não gastam, são, com licença, forretas, mas para lucrar. Os católicos, sem fazerem contas, não conseguem organizar a mais-valia que leva ao lucro do capital. Eis que a ética protestante abre as portas ao capitalismo. Se repararmos nestes azedos dias que vivemos, Alemanha, Dinamarca, Suécia, Finlândia, aderem à ética protestante, enquanto a Grécia, Irlanda, Espanha e nós, aderimos ao esbanjamento do capital: nada temos, em sítio nenhum vamos aparecer com honra e dignidade, com produtos que rendam mais-valia e melhorem, ou melhor dizendo, curem a crosta da pobreza do nosso país…

Por: Raúl Iturra

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