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A urtiga é boa e recomenda-se

Fornos de Algodres quer retirar dividendos das enormes potencialidades de uma planta que “mete respeito” a muita gente

Mandar alguém às urtigas não é necessariamente uma expressão negativa. Ao contrário do que a generalidade das pessoas pensa, esta planta, que toda a gente sabe que pica e faz comichão, tem enormes potencialidades. Esta é uma das premissas que esteve na base da criação, em Fornos de Algodres, da Confraria da Urtiga, que realizou no passado domingo a sua segunda cerimónia de entronização, no âmbito das V Jornadas de Etnobotânica.

O grão-mestre da Confraria garante que as potencialidades das urtigas são «muito grandes» e abrangem diversas áreas. Desde logo, a vertente gastronómica, uma vez que a urtiga é «muito versátil, vai desde uma entrada a uma sobremesa e tanto se adapta à parte salgada como à doce», apresentando um sabor «muito delicado e suave», bem como um cheiro «muito particular». Manuel Paraíso recorda que «havia registos do consumo local de urtigas» em Fornos, mas, «infelizmente, as pessoas só recorriam a elas quando não havia alternativas». Actualmente já há «alguns produtos que temos vindo a procurar certificar como a alheira de urtigas, que tem sido um sucesso, o pão, patés e sopas», revela. De resto, a planta que esteve em destaque no fim-de-semana ostenta «potencialidades nutricionais muito grandes» com o responsável a apontar os exemplos das propriedades em termos de ferro, tendo «três vezes o de um espinafre» e «seis vezes a vitamina C de uma laranja», não havendo «planta mais nutritiva».

Para ser confeccionada, «é preciso ter cuidado sobretudo na apanha», até porque há «vários ditos populares de que não respirando, ela não pica, mas ela pica sempre», sendo necessário salvaguardar «que não sejam apanhadas junto de focos de poluição ou de estradas, onde haja contaminação». A utilização como «fertilizante biológico» e na área dos têxteis são outras mais-valias da urtiga, sendo que neste campo já existem contactos com a Universidade da Beira Interior, de modo a «avançarmos com tudo aquilo que for possível, deste a tinturaria ao têxtil, ao papel eventualmente». A confraria foi criada em Maio de 2009, quando foram entronizados os 13 primeiros confrades, tendo no último domingo sido oficializados mais 13 que cumpriram o ritual de comer uma folha de urtiga durante a cerimónia. Uma comitiva de três elementos da Confraria vai estar em França este fim-de-semana na zona de Versalhes para participar no festival da urtiga, que já se realiza naquele país há 20 anos.

O objectivo é «beber um bocadinho da experiência deles», seguindo-se em Maio uma acção de sensibilização junto da comunidade local «para a potencialidade da urtiga enquanto fertilizante e pesticida». Quem vê com bons olhos o aproveitamento da urtiga como forma de captar turistas é o presidente do município fornense, para quem «a urtiga é mais um daqueles produtos que pode vir a ser um grande instrumento promocional do concelho e da região». José Miranda sustenta que a urtiga é «um bom produto» que «às vezes mete medo porque fomos criados a fugir dela quando afinal, quando bem tratada dá um sabor extraordinário à gastronomia». De resto, incentivar os restaurantes do concelho a incluir receitas com urtigas é «o exemplo de uma boa ideia a explorar», sendo que já existem dois a trabalhar com alguns pratos, «mas o objectivo é trabalhar com mais, divulgar o produto e fazer com que os agricultores se aproveitem desta oportunidade de negócio».

Ricardo Cordeiro Os novos membros da Confraria da Urtiga tiveram que comer uma folha como manda o ritual

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