Num momento em que o empréstimo europeu a Portugal, a juros de roubo, começa já a fazer sentir os seus efeitos – risco de incumprimento aumentou, juro da dívida também – o Banco Central Europeu quer, finalmente, iniciar um processo que ajude a uma reforma da zona euro.
Aumento do orçamento europeu, como se exigiria para ter uma moeda saudável? Possibilidade de emissão de dívida pública europeia, como existe a qualquer Estado com uma moeda própria? Harmonização fiscal, para imedir uma competição entre Estados que, inevitavelmente, levará os cofres públicos à ruína? Ou seja: aprender alguma coisa com os erros que levaram o euro a este beco com saída? Nada disso.
Jean-Claude Trichet quer a introdução de sanções mais rápidas, pesadas e sistemáticas em caso de derrapagem orçamental. E é isto. Ou seja, quer garantir que o Estados que se vejam em situação de emergência sejam enterrados ainda vivos. Porque na ortodoxia burra do senhor Trichet o ataque ao euro não existiu e o governo económico da Europa resume-se a umas boas reguadas dadas a tempo.
A Europa é, como se tem visto, governada por incompetentes mas, valha-nos isso, cheios de convicções ideológicas. Como para os defensores dos planos quinquenais do socialismo real, também estes religiosos não conhecem factos que abalem as suas certezas. E enterrarão a Europa seguros da sua inabalável fé. Nada – rigorosamente nada – do que aconteceu nos últimos dois anos lhes dá razão. Mas isso é indiferente.
Por mim, se o caminho da Europa é este, se a solidariedade entre Estados se resume à lei do mais forte, é provável que reste aos europeus apenas uma solução para salvar a Europa: desmantelar, mal isso seja possível, a União. E quem o diz é um europeísta convicto. Só que às mãos do senhor Trichet, da senhora Merkel e de tantos sociopatas a União transformou-se num Frankenstein perigoso. Ela está a destruir o modelo social europeu, as economias periféricas, a paz social, a estabilidade política e, em última análise, a democracia na Europa. Ela foi uma excelente ideia. Mas nenhuma boa ideia vale a destuição de todos valores que essa mesma ideia jurou querer defender.
Por: Daniel Oliveira