P-Foi o primeiro aluno a matricular-se no então Instituto Politécnico da Covilhã. Porquê essa opção?
R-Já tinha todos os papéis prontos para entrar no Porto, mas decidi entregá-los a um colega que efectuava as matrículas nesse tempo. Optei pelo Instituto Politécnico da Covilhã porque tinha aqui colegas e conhecidos.
P-Sente-se orgulhoso por ser o aluno número um da universidade?
R-Acho que há algum privilégio nisso. No mínimo é engraçado e os meus próprios colegas, que entraram no mesmo ano, também brincam com isso.
P-O que recorda do ano lectivo inaugural de 1974/1975, onde entrou no curso de Administração e Contabilidade?
R-Recordo uma turma muito unida, muito trabalhadora e a necessidade de reivindicar em Lisboa a resolução de várias necessidades, como mais professores e mais dotação orçamental. Tudo isto era um princípio e, sobretudo, uma iniciativa do interior que estava a começar e que permitiu fixar quadros nesta região.
P-Passados 30 anos, como vê o desenvolvimento da instituição?
R-É de louvar o desenvolvimento que a instituição teve. Tudo começou com apenas duas turmas, toda a gente se conhecia e hoje há uma imensidão de alunos… É diferente.
P-Mas a instituição, hoje Universidade da Beira Interior, mudou a cidade da Covilhã?
R-Sim. Formou sobretudo quadros que se fixaram cá, hoje temos pessoas muito válidas na região e a UBI é uma mais-valia para a cidade. A economia da Covilhã gira quase toda em torno da universidade. Muitas das empresas que eram o factor-chave da cidade estão em crise, pelo que a UBI é uma base económica sólida em torno da qual se movimentam muitas famílias. Dá para notar que mexeu com a cidade quer na recuperação do património fabril, quer com o convívio de professores e estudantes. Foi uma mudança radical.
P-A cidade estaria deserta sem ensino superior?
R-Não estaria como está e nisso não há dúvidas nenhumas. A Covilhã melhorou muito com os valores que a UBI continua a produzir. Há cursos que atingiram um bom nível de qualidade, muitos a nível internacional.
P-Acha que a UBI pode crescer ainda mais?
R-Não sei. Se for criada a universidade de Viseu, creio que poderá retirar à UBI muitos alunos que vêm do Norte. Muitos poderão preferir Viseu a vir para a Covilhã e nessa altura poderá haver uma paragem.
P-Na sua opinião, o que é que a UBI poderia fazer para captar esses alunos?
R-Tenho falado com o reitor sobre isso e julgo que seria importante divulgar ainda mais o trabalho desenvolvido na universidade. Esse trabalho não é conhecido junto do público em geral, enquanto outras universidades conseguem traduzir para a imprensa aquilo que vão fazendo. Quando leio os jornais, não vejo referências à UBI quando sei que há coisas de muito valor a serem produzidas. Há inclusive alunos a trabalhar em parceria com outras instituições, como as universidades de Aveiro ou Lisboa, e isso não é conhecido cá fora.
P-O que deveria ser feito para que houvesse mais fixação dos jovens licenciados da UBI?
R-A universidade poderia ser um elo de ligação com as empresas. Seria importante porque teríamos outro tipo de formação e mais actualização. É um ponto que falha e qualquer aluno que se queira lançar na Covilhã tem que ter muito valor ou sorte. Se houvesse um maior contacto entre a universidade e as empresas seria mais fácil os licenciados obterem maior sucesso.
P-Mas isso também depende das empresas?
R-É verdade. O problema é que as empresas também estão a atravessar uma fase complicada. Contudo, as empresas estão a acreditar os seus quadros e não há possibilidades de atingirem sucesso económico sem pessoas qualificadas.
P-Acha que o curso de Engenharia Têxtil, um dos primeiros a ser criado no IPC, ainda se justifica?
R- Teve muita dinâmica na altura e foi essencial para qualificar quadros das indústrias. Hoje temos pessoas que andaram a tirar esse curso e que estão muito bem posicionadas na indústria têxtil. Mas o receio é geral e a lutar com diferenças salariais, vale-nos a tecnologia. O problema é que estamos a atravessar muitas dificuldades e a ser invadidos sistematicamente. Por causa disso as pessoas acabam por deixar o têxtil e optam pelo ensino ou por outras actividades. E isso é uma pena.