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A tradição ainda é o que era na Raia

“Campeonato do Mundo” do Forcão levou perto de quatro mil pessoas à Praça de Touros de Aldeia da Ponte

À semelhança de anos anteriores, a Praça de Touros de Aldeia da Ponte, no concelho do Sabugal, foi pequena para todos aqueles que quiseram assistir à 22ª edição do festival “Ó Forcão Rapazes” na tarde do último sábado. Não houve vencedores, nem vencidos, neste autodenominado Campeonato do Mundo, mas não faltaram motivos que fizeram os cerca de quatro mil espectadores vibrar com este espectáculo que dita leis na zona da Raia. Cerca de 30 homens da cada uma das nove aldeias participantes aguentaram com firmeza as poderosas investidas dos animais que tentaram pegar no final das respectivas lides, nem sempre com sucesso.

À hora agendada para o início do Festival, 16 horas, já as bancadas se apresentavam muito bem preenchidas. As claques afinavam as vozes para apoiarem de forma ruidosa a “equipa” da sua freguesia e, neste particular, destacou-se a de Alfaiates pela quantidade dos apoiantes, uma tarja de grandes dimensões e um mega-fone. Entre o público, misturavam-se os sotaques da Raia, portuguesa e espanhola, com os dos muitos emigrantes que não perdem a oportunidade de reviver esta típica tradição. Até as famosas “ondas” se ensaiaram antes do desfile de todas as equipas na arena, cuja ordem de entrada foi previamente sorteada. A primeira a desfilar foi o Soito, seguindo-se Alfaiates, Aldeia da Ponte, Ozendo, Lageosa da Raia, Fóios, Forcalhos, Aldeia Velha e, por último, Aldeia do Bispo. Entretanto, eram quase 17 horas e a praça já estava a “rebentar pelas costuras”, já que o público tinha continuado a entrar, mas mesmo assim o “speaker” de serviço pedia a quem estava nas bancadas para se ir apertando um pouco mais. Os primeiros a lidar com o forcão foram os homens do Soito que levaram com um touro «que não valeu nada», dizia-se no final. Os “forcados” bem se esforçaram para agarrar no rabo do animal, mas não o conseguiram. Aos representantes de Alfaiates calhou em sorte um dos bichos mais bravos da tarde, que quase conseguiu furar por debaixo do forcão e que ao sair da praça arrancou uma porta da zona de saída. Felizmente que ninguém se magoou, mas só à sexta vez e depois de muito trabalho é que o enfurecido animal saiu da arena. De resto, os touros, da ganadaria de Zé Noi, investiram com tanta vontade no forcão que o «homem do martelo e dos pregos» teve que ser chamado por duas vezes para arranjar o objecto. Seguiu-se a equipa da casa, Aldeia da Ponte, que não deixou os seus créditos por mãos alheias e fez uma pega colectiva que mereceu uma estrondosa ovação do público que foi ao rubro. O touro do Ozendo também entrou bastante enfurecido, mas os homens não vacilaram.

Susto para “forcado” da Lageosa da Raia

No fim de lidarem o touro com o forcão, os participantes da Lageosa da Raia sofreram um dos maiores sustos da tarde. Quando andavam a “brincar” com o touro na praça, um dos desafiadores do bicho mediu mal a distância e no momento de saltar para o redondel o animal veio atrás de si e ainda lhe deu com a ponta de um corno. Literalmente. Nada que tenha tirado a coragem a Manuel Martins, de 32 anos, que já está habituado a estas aventuras, mostrando as marcas que uma «bezerra» fez numa das suas orelhas há uns anos atrás. Nestas andanças desde os 15 anos, este “herói das arenas” confessava estar um «bocado dorido, mas não é nada de mais», frisava, garantindo que não ficou com medo, o que, aliás foi visível, pois mesmo depois do susto, continuou a desafiar o boi. A sexta equipa a entrar em acção foi a dos Fóios, que se destacou por ser uma das duas que fez uma pega ao animal, mas esta apenas por Moisés Nunes que pegou com grande calma no rabo do boi e o fez girar: «Já são muitos anos a agarrar rabos», gracejava no final, de 35 anos e que já participa no Festival desde os 14. O «mais importante» nesta iniciativa é o «convívio, que o touro bata bem no forcão e que ninguém se magoe», frisa, revelando que «há três anos» apanhou um susto quando deu uma «”pirueta”». As últimas equipas a entrar foram as de Forcalhos, que se deparou também com um touro muito pujante, de Aldeia Velha e de Aldeia do Bispo. Uns mais velhos, outros mais novos, com mais ou menos barriga, mas todos os rapazes demonstraram o mesmo afinco. Para o ano há mais com promessa de nova “lotação esgotada” num concurso nascido em 1986 que acabou transformado em festival para evitar controvérsias e desaguisados entre os participantes.

Queda de bancada em Alfaiates faz cinco feridos

Uma mulher com cerca de 60 anos ficou na última sexta-feira gravemente ferida em Alfaiates, quando uma estrutura metálica tombou numa praça de touros improvisada naquela aldeia. De acordo com o que uma fonte dos Bombeiros Voluntários do Soito disse à Agência Lusa, o acidente provocou ainda quatro feridos ligeiros, dois jovens de 26 anos e duas outras mulheres cuja idade não foi revelada. «Não é uma praça de touros desmontável, as pessoas levam carros de bois e montam estruturas para os familiares assistirem [no interior] à tourada», explicou um dos bombeiros presente no local. Uma das estruturas, onde estavam as vítimas, acabou por cair, desconhecendo-se as causas do acidente. Os espectadores «caíram para dentro da praça de uma altura de cerca de dois metros», afirmou. Ao local do acidente, ocorrido por volta das 17h30, deslocaram-se as corporações de bombeiros do Soito e Sabugal, com seis viaturas e 14 elementos.

Ricardo Cordeiro

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