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A solução das questões

Com absoluta legitimidade os portugueses têm – e devem ter – orgulho na sua História. Só um espírito ignorante, alienado, é incapaz de sentir o que é o carácter valente, determinado, empreendedor e afável dos nossos compatriotas.

Todavia, em vez de se dedicarem a saber de si, a saberem quem são e, a partir daí, teorizarem e serem prospectivos na direcção que do passado lhes vem, como são politicamente mantidos na ignorância (a História que se ensina às meninas e meninos dos 7º, 8º e 9º anos é uma perfeita “lambedela”; a que se ensina aos pré-universitários insuficiente para os empolgarem; e, no caso das universidades, falta saber se se dá aos alunos uma visão de conjunto e – sobretudo uma plausível e correcta interpretação), como são politicamente metidos na ignorância, os portugueses – é reiterado ad nauseum – andam deprimidos.

Saber de si, mais que ser o princípio de toda a autêntica Filosofia (contrariamente ao que possa imaginar-se também há uma Filosofia da treta, digamos) é o princípio de toda a Felicidade. Todo o ser humano contém em si todas as potencialidades para ser feliz, triunfante e orgulhoso de si próprio – a maior depressão é a maior ignorância. E que o saber de si é um marco da evolução humana, essa viragem trazida para a civilização e cultura ocidentais por Sócrates após visitar Delfos, é consabido (os pensadores cosmocêntricos foram, digamos, apeados ou secundarizados após o “conhece-te a ti mesmo” que o que “sabia que nada sabia” vira – e interiorizara – no frontão do templo de Apolo no dito santuário délfico).

Não estranhe o leitor que diga que os portugueses são mantidos na ignorância. Já viu maior repugnância que uma substancial quantidade de programas de TV? Já viu como um suplemento inteiro de um jornal, um “grosso” volume de páginas, possa ser sobre a morte da “estrela” pop? (Sobre o deletério ou miserando que se vê e publica tinha falado no último artigo). Já viu o que representa de ofensivo além de tudo o que pode ser escrito, alguém fazer exame a um domingo? Já viu como o que passa por ser Ministério da Educação seja o que há de mais revoltante? Já viu como a mentira e a corrupção campeiam?

E são mantidos na ignorância porque, deste modo, o voto está radical, essencialmente, condicionado e/ou garantido. Para não dizer já que a malignidade da miséria gera malignidade de miséria ainda maior.

Mas a manutenção do povo na ignorância provém, no fundo, das duas entidades-chave das quais era suposto terem aptidão para serem os alicerces e faróis ao mesmo tempo. Refiro-me à Igreja – atenção!; sinto-me cada vez mais religioso – e à Universidade (é “matéria” que espero tratar noutra altura).

Cingindo-me à Universidade não é novidade para ninguém que o partido que, agora, detém o poder – e que, para felicidade de Portugal, deve desaparecer quanto antes – tem no mundo académico apoios copiosos. O que é outra prova do valor do mundo académico ou, de outro modo, como este mundo deve mover-se – com absoluta rapidez – das erróneas, presunçosas e narcísicas posições em que se encontra.

Se aos portugueses fossem dados os alimentos espirituais devidos, desde compreenderem por que é que o Brasil é um país de ressentimento – portanto invisitável quando cada um estabelece prioridades vitais – à suplantação da ignorância sobre o vigoroso portuguesismo dos goeses no séc. XIX ou a espiritualidade de que Goa foi, e é, capital, à estrita obrigação que cada um de nós tem de amar Angola ou S. Tomé e Príncipe, v.g., se… não era apenas a erradicação da depressão, mas – acima de tudo – sólida auto-estima, possibilidades ao alcance da mão, digamos, e repúdio da mistificação e demagogia de forças como as que se afirmam P“S” e Bloco de Esquerda (o PC – salvo erro – prossegue o seu caminho denunciando iniquidades).

A solução das questões não se situa ao nível da Política – não raro mero epifenómeno –, mas do Saber, da Reflexão, da Meditação. O leitor fará o favor de dizê-lo a quem disso carecer.

Desde logo, portanto, saber quem somos através de uma recta interpretação da nossa História.

Guarda, 28-VI-09

Por: J. A. Alves Ambrósio

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