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A sinalização e a gestão do risco

O rigor na sinalização das vias públicas é frequentemente imperceptível em Portugal. Todos temos exemplos de sinais que não fazem sentido no contexto em que se encontram e também nos apercebemos de locais onde primam pela ausência. Alguns de nós, inclusivamente, já tivemos o cuidado de chamar a atenção dos responsáveis para este ou aquele caso. Todavia, a experiência vivida nestas circunstâncias, demonstra uma indiferença dos mesmos, que resulta, quase sempre numa resposta “redonda”, ou numa promessa de que o assunto irá ser tratado, mas, quase invariavelmente a situação fica imutável.

Claro que o caso muda de figura se o assunto for transformado num “escândalo ” altura em que , habitualmente se vai “a correr”, “resolver” o assunto, por vezes para soluções bem piores, ditadas pela pressa em “lavar a cara”.

Estes factos teriam pouca importância e até poderiam ser considerados parte do folclore se não tivessem implicações de vária ordem e significados que importa considerar. Limito-me a referir três dessas implicações:

A primeira, tem a ver com a sinalização propriamente dita, é que por vezes esta é tão ilógica que se transforma num convite ao não cumprimento. Quem não se lembra de sinais em zona de obras, por vezes com sinais de proibição e obrigação, que ficam nos locais muito para além do fim das intervenções. Ou ainda quem não conhece exemplos de placas que sinalizam o início de localidades, que mais parecem colocadas para marcar território do que para assinalar o inicio efectivo da zona de maior risco, pela provável presença de pessoas na proximidade e podíamos continuar com os exemplos…

Quem determina a colocação de sinais, para além de ter de ser conhecedor das suas implicações deve fazê-lo com a completa convicção da sua correcção e adequação e da sua manutenção exclusivamente para o período em que se justifica. Só assim podemos garantir a sua eficácia e credibilidade motivadora do seu respeito.

A seguinte implicação vai para além da sinalização. Trata-se da incipiente forma como lidamos com o risco enquanto possibilidade de algo, particularmente se algo nefasto, poder acontecer. Esta atitude revela-se, de muitas formas mas também, ao desconsiderarem-se os avisos. È que, a maneira de muitos reagirem perante os avisos, é a de personalizarem os assuntos, descentrando completamente a questão e transformado-a. Em vez de lhe darem a devida análise considerarem-na uma afronta (que na maioria dos casos não é). É fundamental que aprendamos a saber gerir o risco, a meditar sobre os avisos e a discernir que os acontecimentos que podiam acabar em acidentes nos ensinam, frequentemente, a evitá-los.

Parece-me que estes dois aspectos que referi antecipam a terceira questão que é a do indispensável profissionalismo necessário para saber gerir as crises e a forma como estas devem ser encaradas, fugindo dos “remedeios” e procurando as soluções mais adequadas. Quando as situações são antecipáveis a prevenção, é, sem dúvida a melhor abordagem. Quando, apesar de tudo acontecem, deve existir uma capacidade de resposta preparada, antecipada, para minimizar as consequências.

Precisamos desenvolver a ciência da gestão do risco. As suas aplicações são amplas e no passado ou no dia a dia encontramos muitos exemplos de situações, algumas de dimensões catastróficas, que podiam ter sido evitadas ou pelo menos terem tido consequências menores.

Por: Miguel Castelo Branco

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