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A senhora Lagarde e o enorme poder da estupidez humana

A senhora Lagarde, que recebe 380 mil euros por ano e não tem de pagar impostos, mandou os gregos pagarem os seus. A senhora Lagarde, que é uma das mulheres que melhor veste no mundo, com a preciosa contribuição de dinheiros públicos, diz que não se preocupa muito com as crianças gregas. Preocupam-na mais as da Niger, que o coração da burocrata não tem espaço para demasiada gente. A senhora Lagarde, na sua profunda cretinice, fez um favor ao Syriza ao insultar os gregos. É bom haver pessoas como ela. Como não vão a votos, tendem para a incontinência verbal e dizem às claras o que alguns eleitos até em conversas privadas evitam confessar: que se estão nas tintas para os que estão a sofrer com esta crise.

O senhor Cavaco gosta de agradar a gente como a senhora Lagarde. Em Sidney, explicou que o único problema que existe neste momento na União Europeia chama-se Grécia. Anda o mundo a discutir a fragilidade do euro e a inépcia das instituições europeias, que podem levar todo o planeta para uma crise económica de larga escala, e o senhor Cavaco pensa que tudo começa e acaba em Atenas. Como Portugal gosta de imitar os crescidos, o Presidente lá deu a sua achega para a pressão geral sobre os gregos: “Portugal deseja que a Grécia permaneça na zona do euro, mas essa decisão depende do povo grego e essa decisão será com certeza manifestada nas eleições gregas que vão ter lugar a 17 de junho”. É tão giro ver o pequenito a fingir que é fanfarrão.

A forma como a Europa está a tratar o povo grego poderá ter (e espero que tenha) uma resposta no dia 17. É possível que os gregos achem que a senhora Lagarde deve enfiar as suas preocupações e conselhos na sua mala Louis Vuitton e que desconheçam quem seja o senhor Cavaco. É até plausível que os gregos sejam diferentes dos portugueses e não sintam grande simpatia por quem fala com eles com paternalismo e arrogância.

Anda por aí muito esperto que, não tendo grande respeito pela democracia, sonha com uma punição dos gregos depois de dia 17. Para que os restantes povos percebam que, nos dias de hoje, a democracia não passa de uma encenação. Descobrirão com espanto que a Grécia está longe de ser o único ou até o principal problema da Europa. Mas que o euro, para o mal ou para bem, está amarrado ao destino do primeiro país que for atirado borda fora. O que os povos perceberão nesse dia é outra coisa: que a União Europeia é um projeto falhado e que dele se queiram ver livres o mais depressa possível. Regressados então à velha Europa dos nacionalismos agressivos, poderemos agradecer à mais medíocre geração de políticos que a Europa conheceu desde do fim da Segunda Guerra. O nosso maior erro é sempre este: subestimar o enorme poder da estupidez humana.

Por: Daniel Oliveira

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