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A Revolução por Carlos Gil

Exposição no Paço da Cultura evoca fotojornalista e o 25 de Abril

As movimentações de militares e populares, as personalidades e os rostos comuns daquele dia mítico, a imensa alegria do momento ou a tensão, mas também a agitação política que se seguiu são algumas das imagens que compõem a exposição fotográfica sobre os 30 anos do 25 de Abril, patente na galeria do Paço da Cultura, na Guarda, até ao fim do mês. Uma mostra que resulta do valioso testemunho do falecido Carlos Gil, cuja objectiva esteve sempre na primeira fila dos acontecimentos e produziu fotografias que se tornaram verdadeiros ícones da Revolução dos Cravos. Um trabalho desvendado ao final da tarde de hoje.

Carlos Gil, com origens familiares em Figueira de Castelo Rodrigo, iniciou-se como fotojornalista em “A Capital”, mas o 25 de Abril apanhou-o na revista “Flama”, onde se manteve até 1977. Foi ainda colaborador “free-lancer” de revistas e jornais nacionais e estrangeiros como o “El País”, “Cambio 16”, “Manchete”, “Der Spiegel”, “Diário de Lisboa”, “O Jornal”, “Expresso”, “Diário de Notícias”, “Jornal de Notícias”, “Sete”, “Tal & Qual”, “O Liberal” e as revistas “Mais” (editor fotográfico 1983-5), “Sábado” e “Tempo-Livre”, do Inatel, de que foi editor fotográfico entre 1990 e 2001, ano da sua morte. O seu trabalho valeu-lhe o Prémio Gazeta de Jornalismo em 1894 e 1985 e o Prémio Ibn Al Haythem em 1996 e 1997. Privilegiou zonas de conflitos armados e guerras de guerrilha, como Angola, Moçambique, Sara Ocidental, Curdistão, Líbano, Iraque, Panamá, El Salvador, Guatemala, Nicarágua, Uruguai, Argélia e Marrocos, entre outros. Esta exposição é parte do vasto espólio deixado pelo fotógrafo sobre o 25 de Abril e os anos imediatos, cujos momentos-chave fixou para a posteridade. São imagens que compõem o livro “Carlos Gil – Um Fotógrafo na Revolução”, apresentado durante a cerimónia de inauguração, e inspiraram uma série exibida em Abril último na RTP1 sobre a revolução.

Na Guarda, o 25 de Abril pode ser revisitado através de mais de três dezenas de fotografias que cobrem períodos específicos. Tal como o livro/álbum, cujas imagens foram seleccionadas por Daniel Gil, filho do fotógrafo, e legendadas pelo jornalista Adelino Gomes, esta mostra viaja do tempo da ditadura ao dia da revolução, recorda o primeiro 1.º de Maio e acompanha o PREC – Processo Revolucionário em Curso, sem se esquecer de fornecer as imagens mais emblemáticas desse período de personalidades como Álvaro Cunhal, Ramalho Eanes, Otelo Saraiva de Carvalho, Sá Carneiro, Salazar, Américo Tomás, entre outros, e artistas como José Afonso, Fausto, Vitorino ou Barata-Moura. Fotografias que adquiriram reconhecidamente uma significação para além do seu registo jornalístico. A ocasião é ainda aproveitada para apresentar “Carlos Gil – Um Fotógrafo na Revolução”, uma edição da Editorial Caminho com 200 fotografias organizadas em séries e distribuídas por quatro capítulos, que apresenta os momentos e as personagens cruciais do processo político iniciado com o 25 de Abril. O livro arranca antes da revolução, com as imagens colhidas por Carlos Gil na época da ditadura, sob o título de “O Antigamente”. Segue-se “Do 25 de Abril ao 1º de Maio”, “O PREC (Processo Revolucionário em Curso)” e “Figuras e Figurões”. Os textos de Adelino Gomes são o complemento necessário para a compreensão contextualizada das fotografias seleccionadas, No final, a obra contém uma cronologia da revolução e um posfácio da autoria de Daniel Gil. A exposição pode ser visitada das 14 às 20 horas, de segunda a sábado, e é organizada pela autarquia e a delegação da Guarda do Inatel.

Luis Martins

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