Arquivo

A Revolução do Neutrino?

Mitocôndrias e Quasares

O final do mês trouxe uma noticia que poderá, caso se confirme, deixar uma marca importante na Física moderna. Um grupo de investigadores afirma ter conseguido medir valores de velocidades, em neutrinos, superiores à velocidade da luz. Segundo estes investigadores, nas medições efetuadas verificou-se que os neutrinos percorreram os 730 km que separam as instalações do Centro Europeu de Pesquisa Nuclear (CERN), em Genebra, do laboratório subterrâneo de Gran Sasso (centro da Itália) a uma velocidade de 300.006 km/segundo, portanto 6 km/s a mais do que a velocidade da luz.

Estes valores experimentais, caso sejam validados pela comunidade científica, podem afetar fortemente os alicerces da física, uma vez que a teoria de Einstein passaria a ter um papel mais restrito, isto é, seria apenas válida em certos domínios, passando a existir uma teoria ainda mais global.

Os neutrinos, as partículas que estiveram na génese desta medição, apresentam três características importantes: não possuem carga elétrica, interagem com a matéria de um modo muito fraco e a sua massa é extremamente pequena. Esta última característica permite que estes sejam capazes de atravessar um cubo de chumbo sólido sem se chocar com a matéria. Calcula-se que 50 trilhões de neutrinos atravessam o nosso corpo diariamente. Já o facto de não possuírem carga elétrica assemelha-os aos neutrões, partículas subatómicas que se situam no interior dos átomos. O próprio nome neutrino, está associado à palavra neutrão. A estória conta-se da seguinte forma: nos anos 30 do século passado, um grupo de física liderado por Enrico Fermi, em Roma, desenvolveu um conjunto de trabalhos sobre Física Teórica. Este grupo ficou conhecido, no mundo da ciência, como os “rapazes da Via Panisperna”, em referência à avenida romana onde se situava o laboratório de investigação. Na Via Panisperna, nos anos 30, acreditava-se na Teoria de Pauli que defendia a existência desta partícula, mesmo que ainda não tivesse sido detetada experimentalmente. Esta convicção era tão forte, que o próprio Fermi, decidiu atribuir um nome que transmitisse a ideia de uma partícula eletricamente neutra e de dimensões reduzidas. Fermi utiliza a palavra italiana neutrone que significa neutrão. Nesta palavra está presente a ideia de partícula neutra e grande (sufixo – one, em italiano, é um aumentativo). Nesta linha de pensamento, Fermi substitui o sufixo – one, por um diminutivo, que é o – ino. Daqui nasceu a palavra neutrino, partícula neutra e de reduzidas dimensões..

Apesar de ser teorizada nos anos 30, a existência dos neutrinos apenas foi confirmada em 1956, uma vez que ao apresentarem uma fraca interação com a matéria, a sua deteção foi difícil. Frederick Reines e Clyde L. Cowan foram os cientistas que estiveram por detrás da deteção destas partículas eletricamente, quando decidiram bombardear um tanque com neutrinos vindos de um reator nuclear. Mas, como detetar um neutrino? Para detetar um neutrino são necessários enormes reservatórios de substâncias que produzam alguma reação detetável. Na atividade experimental de Clyde e Reines foi usado um grande tanque contendo uma solução aquosa de cloreto de cádmio. Quando os neutrinos, vindos de um reator nuclear, reagissem com alguma partícula, produziriam luz. Deste modo, detetores especiais envolvendo o tanque captariam a fraca luminosidade produzida pelo choque.

Apesar do entusiasmo inicial que esta descoberta possa ter despertado no mundo da ciência existe, ainda, um logo caminho até se confirmarem estes valores, e deste modo, passarem a ser aceites por toda a comunidade científica.

Por: António Costa

Sobre o autor

Leave a Reply