Arquivo

A resistência não poderá nunca ser exclusiva dos comunistas

Crónica Política

No dia 5 de Junho fomos a votos e a questão parecia clara: quem iria ser escolhido para por em prática o programa de governo anteriormente acertado com o FMI, o BCE e a União Europeia.

Andei em campanha com os meus camaradas e muitas vezes fomos confrontados com gente que estava “cheia” de Sócrates, mas no distrito da Guarda os eleitores que se deram ao trabalho de ir votar acabaram por dar a vitória claríssima ao PSD, numa decisão que representa o tal “salto da frigideira para o lume”, e a continuação com outros rostos da mesma política dos últimos 35 anos. A CDU manteve o eleitorado, no entanto considero preocupante que perante o desaire eleitoral do PS e a redução substancial do BE, os eleitores que se afirmam de esquerda não optassem por um caminho de efetiva mudança política. Há que refletir sobre este prisma.

Não basta dizer que os famigerados de sempre concluíram que o país tinha virado à direita. Virado à direita se nunca saímos de políticas de direita? Será que os fazedores de opinião esqueceram os PEC1,2,3 e os OE que receberam o voto de anuência do PSD, que foi o co-responsável na governação do PS.

No presente carecemos de maior militância, e aqui dirijo-me a muitos que têm responsabilidade no seio do movimento sindical, associativo ou outro, que devem refletir na deformação ideológica que de forma perene tentam inculcar no seio dos trabalhadores.

O caminho não poderá ser de retrocesso e na mistificação de que não há outra saída que não seja a dos cortes sociais, redução de direitos ou outros. O caminho tem de ser trilhado na defesa de todos os trabalhadores, incluindo a defesa dos direitos dos trabalhadores chineses, indianos e da Europa de Leste. O princípio de que “proletários de todos os países uni-vos” não pode ficar-se pelo plasmado teórico, é necessário levá-lo à prática de forma efetiva e não exacerbarmos os nacionalismos que muito trucidaram os povos.

O caminho é bem esclarecedor para quem tem dúvidas. Os apelos que Passos Coelho dirigiu ao PS na noite eleitoral deixam antever que as medidas de PSD e CDS terão o apoio e a “compreensão” dos socialistas. Apesar das mistificações e truques de ilusionismo, do tratamento desigual nas televisões sempre que se tratava de comentários ou análises às campanhas, a CDU conseguiu resistir e até crescer nalguns distritos em termos absolutos, ainda que não de forma significativa. A situação a que PS, PSD e CDS conduziram o país levou a que os eleitores punissem quem se encontrava de serviço à frente do governo da República.

Fosse a memória colectiva outra realidade, tivessem o PSD e o CDS tido a honestidade de clarificar o programa que irão cumprir e teriam sido punidos os três partidos responsáveis por tal resultado.

É curioso que aumentámos a votação onde tivemos maior intervenção no porta-a porta, no esclarecimento efetivo dos problemas que afectam os guardenses. Centremo-nos na situação do concelho da Guarda, semelhante à situação do país, uma autarquia paralisada, endividada, sem estrutura orgânica, sem capacidade de mobilização dos cidadãos para projetos que valham a pena, arrastando-se numa gestão diária sem outro rumo que não seja a sobrevivência ao dia seguinte.

Os tempos que aí vêm só irão agravar o problema, com menos receitas e a situação financeira a atingir o ponto de rutura.

Muitos são os que se questionam sobre que realidade teremos em 2013, quando se realizarem as próximas eleições autárquicas. Questionam-se se ainda haverá salários para os trabalhadores do município, se as viaturas municipais ainda poderão ser abastecidas de combustível. A resposta tem que ser contrária, o caminho da gestão autárquica no efetivo aproveitamento de todos os equipamentos municipais, bem como das potencialidades de todos os trabalhadores do município, incluídos os das empresas municipais. Temos que dar combate ao caminho das “casas da cultura” fechadas ou pior ainda, ao definhamento do mundo rural de forma assustadora, acentuado nestes últimos tempos, com o encerramento dos poucos serviços públicos de proximidade, estações de correios, escolas primárias e extensões de saúde.

A gestão do PS na Câmara da Guarda, tal como a governação do PS no país, há muito que se esgotou sem cumprir o que em sucessivos mandatos prometeu realizar.

Porque sabemos que a memória coletiva tende a ser facilmente iludida, convém ir lembrando onde estamos e quem foram os responsáveis por aqui termos chegado.

Quanto ao que aí vem para os trabalhadores e para o povo, o caminho só pode ser um: a resistência, mas esta não poderá nunca ser exclusiva dos comunistas.

E, acreditem, vai ser dura a luta e vamos contar com muitos dos que votaram, infelizmente, nos partidos da “troika” interna quando perceberem que serão eles os alvos da política dos que acabaram de eleger.

Por: Honorato Robalo

* Dirigente da Direção da Organização Regional da Guarda do PCP

Sobre o autor

Leave a Reply