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A República dos Ratos – O Fim da inteligência democrática

«A democracia está transformada numa casa de putas que se abrem a favores de quem paga, onde as putas finas mandam no prostíbulo, e por detrás das quais, há sempre um capitalista que paga e é o dono do bordel. E o povo mais que nunca está amordaçado. Antes não podia falar, agora chegou à conclusão que o ’25 de Abril’ só lhe deu a liberdade de estar calado por opção»

Os escândalos nascem como cogumelos. E porque a justiça não funciona, regressámos ao método ancestral da justiça popular – hoje, o “pelourinho” é a comunicação social e o mundo desregulado da internet, onde tudo se pode vazar, sem critérios, sem leis. Mas o que faria escandalizar qualquer sociedade moderna, dura hoje meia dúzia de dias em conversas de café e morre. Já não há demissões, nem questões de honra. E porque já ninguém se indigna com nada e tudo se aceita e tudo se desculpa, o que é preciso é sobreviver três dias, depois disso tudo se cala e o que não mata fortalece. E porque nada parece ter consequências, criou-se em Portugal uma ideia de impunidade que alimenta todo o tipo de velhacarias e jogos de bastidores.

Ao fim de pouco mais de três décadas de pretensa democracia, chegámos onde não chegou sequer o Estado Novo – um país atrasado, falido, cheio de bufos e perseguidores políticos, com a liberdade de opinião condicionada e credibilidade na justiça posta em causa. Onde não funciona a educação nem a saúde. Onde não funcionam as entidades reguladoras, a banca está descredibilizada, o desemprego alastra e a corrupção ganha terreno. Um país sem valores, onde o ‘Chico Esperto’ é o herói nacional – idolatrado e seguido, exemplo para as novas gerações – aquelas que são o nosso futuro. Chegámos ao grau zero, ao fim da inteligência democrática.

A democracia está transformada numa casa de putas que se abrem a favores de quem paga, onde as putas finas mandam no prostíbulo, e por detrás das quais, há sempre um capitalista que paga e é o dono do bordel. E o povo mais que nunca está amordaçado. Antes não podia falar, agora chegou à conclusão que o ’25 de Abril’ só lhe deu a liberdade de estar calado por opção. Antes eram todos heróis da liberdade, hoje o povo está domesticado, tem “direito à indignação” mas não se indigna. Afinal, o povo é sereno e de bons costumes, porque se é verdade que ganhou uma nesga de liberdade, também é verdade que não perdeu o medo. A história já nos ensinou que é no pântano da cobardia que aparecem os ditadores…

É certo que a pluralidade da comunicação social deveria ser o alimento crítico das populações, mas já vimos que existem “empresários amigos” – uns do poder, outros da oposição. Por isso, a grande maioria da comunicação social não passa de duplicadora de comunicados e notas de imprensa, reprodutora acrítica de discursos, veículo para campanhas sombrias com objectivos obscuros. Antes queixavam-se da censura, do ‘lápis azul’. Mas hoje existe a censura do “lápis transparente” – não se vê mas está lá. Está lá nas chamadas telefónicas de quem manda, na calculadora da publicidade dos editores, nas opções das agendas das redacções, na cabeça dos jornalistas vendidos ou apenas com o medo de serem despedidos. Quantos jornalistas livres existem nesta democracia? Quantos têm a opção de ser verdadeiramente livres? É que afinal, nem existe uma só “verdade” e há muitas verdades para muitos preços. Acontece que, ao perpassarem notícias fabricadas, como simples papagaios, sem capacidade crítica de analisarem o que dizem ou o que escrevem, uma grande parte da comunicação social apenas ajuda a envenenar a opinião pública. Porque se antes não havia informação, agora estamos no oposto, a informação é demasiada, contraditória e pouco credível.

Paralelamente, tal como nos “outros tempos”, a nossa sociedade está recheada de habilidosos que se agarram como sanguessugas às estruturas públicas do ensino, da saúde, da justiça, da administração. Criticar apenas os políticos é fácil – porque são os mais expostos -, mas eles são apenas um reflexo do povo em que nos transformámos – pobres, ignorantes, iletrados, silenciosos… hipnotizados nas cores da “política espectáculo”. Por isso, muita dessa gente que nos governa (e a que nos quer governar), muita dessa clientela política que pulula nos grandes cargos, sente que está acima de tudo e de todos, acima da lei que não tem força, acima dos valores que não existem, acima deste povo que não reclama. Sentem-se impunes. Mas a verdade, é que estão mesmo impunes. Como num país qualquer do terceiro-mundo. Por isso voltámos á barbárie, em que, quando todos os sistemas estão falidos, se faz justiça pelas próprias mãos, e os linchamentos são à revelia na praça pública – que são hoje os jornais, as televisões, a internet.

Os escândalos que agora começam a sair a público são apenas um olhar indiscreto “pelo buraco da fechadura” da tal casa de putas – são os vícios secretos tornados públicos. Ninguém se escandaliza porque todo o mundo parece estar lá dentro, com os seus esqueletos no armário, com as suas telhas de vidro… por isso, apesar do apoio internacional, voltámos a ser um país de emigrantes. Como diria Alexandre Herculano, “é o povo que faz a história de Portugal”. Por isso é tempo de retomar a inteligência democrática e o povo assumir nas suas mãos a sua própria história… mas, acontece que, por agora, o povo está mais preocupado com a crise no Sporting e em ver se o Benfica consegue ser campeão… é disso que depende o seu futuro…. E enquanto os gatos descansam, ganha dimensão a república dos ratos…

Por: João Morgado

Comentários dos nossos leitores
Altivo adfaguas@neuf.fr
Comentário:
De facto penso que alguns jornalistas de pacotilha politica e opinião deviam inspirar-se neste artigo, parar para reflectir, meter a mão na consciênciae depois voltar a escrever com ética:isenção, honestidade,objectividade e assim deixarem de ser uns cegos a troco de umas gorgetas
 

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