Arquivo

«A região vai ficar mais bem servida culturalmente»

Cara a Cara – Entrevista

Perfil:

– Rui Sena

– Director Artístico da “Quarta Parede” – Naturalidade: Covilhã

– Idade: 50 anos

– Profissão: Encenador

– Currículo: A finalizar um curso de Estudos Teatrais, encenador das peças “Zoo Story”, “Menina Júlia” e “Boda dos Pequenos Burgueses” e fez “workshops”, o último foi “Odin da Dinamarca”, de Eugénio Barba

– Hobbies: Esqui, ouvir música, ler, teatro, dança e frequentar a noite

P – Que motivos originaram a “Quarta Parede”?

R – A principal resposta está nas estatísticas. É um país com um índice cultural baixo, esta região tem os índices mais baixos do país e faz todo o sentido que apareçam mais associações a trabalhar a cultura. A “Quarta Parede” surge nesse prisma e também porque determinadas formas de arte passam despercebidas em termos de organização e de produção, tanto na dança, como ao nível das novas formas usadas no teatro, como as novas tecnologias. Esperamos que num futuro breve possam ser postas ao dispor de uma população e públicos mais jovens e mais cultos.

P – Haverá lugar para mais uma associação cultural?

R – As coisas nunca são fáceis na cultura. O que vamos fazer é trabalhar intensamente para ter público. Não esperamos facilidades nem que as coisas nos caiam do céu, vamos trabalhar conscientemente, sabendo que é uma área difícil e que se vai conquistando. O que esperamos é que, ao longo dos próximos três anos, a associação esteja implementada na cidade e na região. Faz todo o sentido encarar a região como um todo e por isso pensamos fazer colaborações com associações que estão no terreno.

P – Três anos é o prazo limite?

R – Seria ideal cimentar o projecto em três anos. Estamos a nascer do zero e, portanto, tem que ser devagar. É um prazo razoável se tivermos apoios, e não só financeiros, para podermos concretizar os nossos objectivos.

P – Em que área se vai centrar a “Quarta Parede”?

R – É evidente que, numa primeira fase, a área a que estamos mais ligados é o teatro. A dança é uma preocupação no futuro e a música será mais em termos organizativos do que produtivos, tal como vai acontecer no próximo festival. Há outras áreas que são perfeitamente possíveis de concretizar porque se integram neste projecto multidisciplinar que queremos abarcar. Depois, há a fase organizativa que começa já a partir deste mês com o Festival Y, uma iniciativa multidisciplinar com música, teatro, dança, conferências e “workshops”. Estes últimos são áreas que achamos que não são muito trabalhadas na nossa região, pois os debates virados para o teatro e a dança não têm sido constantes, assim como os “workshops” de formação.

P – A “Quarta Parede” surgiu para colmatar essa falha?

R – Penso que não há falhas. Não vamos tocar todas as áreas, porque humanamente não é possível, é complicado em termos organizativos e é impossível financeiramente. Mas é evidente que quando há mais gente a trabalhar há mais possibilidades das áreas ficarem mais cobertas e pensamos que a região vai ficar mais bem servida.

P – Que comentário faz à contestação cultural à autarquia que se fez sentir há uns meses atrás? Não teme que, com mais uma associação cultural, o apoio seja mais escasso?

R – Não me quero pronunciar sobre o que aconteceu anteriormente, ou porque aconteceu. Não conheço profundamente cada um dos casos para me poder pronunciar sobre eles. Diria que, em termos culturais, o dinheiro nunca é muito. Penso que todos os criadores gostariam que houvesse mais dinheiro para a cultura. Mas são os projectos que fazem valer as situações. Podemos ser penalizados, só que não vejo que seja pela existência de mais uma associação.

Sobre o autor

Leave a Reply