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A radiografia social da Guarda

Diagnóstico revela desadequação das ofertas de emprego, desarticulação entre instituições, problemas de alcoolismo e toxicodependência e falta de apoio a idosos

Está concluído o Diagnóstico Social do Concelho da Guarda. A “radiografia” dos principais problemas do município foi divulgada na última sexta-feira pela ADM Estrela, coordenadora do projecto da Rede Social da Guarda, e revelou que ainda há muito a fazer. A começar pela adequação das ofertas de emprego às necessidades do mercado local, mas também por uma verdadeira articulação entre as várias instituições para resolver com maior eficiência problemas de alcoolismo e toxicodependência. Igualmente com falta de apoio estão idosos, famílias disfuncionais e pessoas portadoras de deficiência ou com necessidades educativas especiais.

Casos de pobreza extrema não foram encontrados, mas Mónica Xavier, técnica da Rede Social do Concelho da Guarda, garante que o problema é a «pobreza encoberta», exemplificando com casos de famílias cujos pais são desempregados recentes mas ainda têm algumas poupanças. «São situações que podem ser problemáticas daqui a um ano», augura. O problema é que, em matéria de emprego, o diagnóstico não é muito famoso e faz sobressair a desadequação da oferta em relação às necessidades do mercado de trabalho. «Isso acontece porque nunca houve um estudo sobre as empresas existentes, as suas necessidades actuais de mão-de-obra e as futuras», refere Mónica Xavier, que acrescenta a essa lacuna os baixos níveis de qualificação existentes no município e a mais alta taxa de desemprego do distrito. «A Plataforma Logística poderá ser um factor decisivo para contrariar essa tendência, mas vai ser necessária a requalificação escolar ou profissional de muita gente para que o mercado local de trabalho possa beneficiar dessa mais-valia», sustenta. Para tal, sugere um maior relacionamento entre as diversas entidades formadoras e as empresas, porque «os desempregados estão aí».

O diagnóstico fala ainda da falta de articulação entre as instituições do concelho ligadas às problemáticas sociais. O que, por um lado, dificulta o trabalho de cada uma e a resolução de muitos problemas, nomeadamente ligados ao alcoolismo e toxicodependência, e adia, por outro, «muitas respostas sociais, nomeadamente ao nível de pessoas portadoras de deficiência e com necessidades educativas especiais, idosos e famílias disfuncionais», acrescenta a técnica. No caso da terceira idade, o estudo realça que, apesar de haver no concelho inúmeros centros de dia e lares, os idosos estão literalmente «abandonados» durante a noite e aos fins-de-semana. «Há uma grande falta de acompanhamento nesse período e também dificuldades na ligação aos centros de saúde e hospital, já que o cuidados de saúde ao domicílio não estão muito desenvolvidos em Portugal». Nesse sentido, propõe-se que os vizinhos ou familiares recebam formação em certos cuidados de saúde para que possam prestar uma assistência «básica e imediata» aos idosos. Mas para que esta e outras propostas sejam concretizadas nos próximos anos é agora necessário que os parceiros concretizem os eixos de intervenção identificados: «Isto é só um programa de implementação. Temos que pensar que a rede continua para além do dinheiro que vem da Segurança social e que os parceiros vão doravante trabalhar juntos para tentar resolver os problemas detectados», espera Mónica Xavier.

Luis Martins

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