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A propósito dos exames de Português

REFLEXÃO

As notas dos exames de Português foram, mais uma vez, uma desgraça. É claro que as médias das classificações obtidas nos outros exames estão ainda longe de ser satisfatórias – médias sempre abaixo dos 15 valores implicam que grande parte dos alunos saia do Ensino Secundário com uma formação medíocre -, mas julgo que a de Português é a mais alarmante. Porquê? Porque, estudemos química, física, sociologia ou direito, a Língua Portuguesa é aquela que sempre utilizamos.

O português é a nossa língua-mãe, o idioma a que recorremos todos os dias, em qualquer situação – para conversar com os amigos, para ver televisão, para ler ou escrever um texto. É a língua que falamos desde que nascemos, que começámos a conhecer antes até de termos nascido, e, em grande parte dos casos, a única que nos foi ensinada até aos 10 anos de idade. Ter uma negativa num exame que avalia os nossos conhecimentos sobre esta língua só tem um significado – não a sabemos usar. E porquê? Porque não lemos. A grande maioria dos alunos do Secundário não lê. E já nem falo só das obras de leitura obrigatória. É óbvio que, não lendo estas, se torna muito difícil tirar um 14 ou um 15 – não conhecendo o que está por trás de um escritor e do seu espólio, há questões que se tornam automaticamente irrespondíveis –, mas essas ainda alcanço que muitos achem maçudas. Não saber usar a língua que nos acompanha desde sempre significa que, no nosso dia a dia, contactamos com um leque muito reduzido de vocabulário. Ou seja, não só não lemos as obras obrigatórias, como não lemos nada que ocupe mais de 2 páginas.

Não digo que seja fácil tirar notas acima dos 17 neste exame. Os critérios de correção estão feitos de tal forma que só uma grande dose de sorte (ou vidência) nos permite a nós, alunos, adivinhar na totalidade o que o GAVE decidiu ser a resposta mais apropriada à questão colocada, e só quem ainda não se dedicou a resolver um exame pode achar o contrário. No entanto, não tirar um 17 não significa tirar um 9, e são estas notas que são inaceitáveis.

Ana Lurdes Logrado (12º A)

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