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A propósito do Dia Internacional dos Museus…

Anotações

O dia internacional dos museus, que será assinalado no próximo dia 18 de Maio, coloca este ano a tónica sobre a relação entre estas instituições e o turismo.

Alissandra Cummins, que preside ao Conselho Internacional de Museus (ICOM), comentou a propósito das relações a fomentar entre os visitantes dos museus e as comunidades locais que o vínculo com o património é o indispensável elo de ligação. “O património é a identidade que todos partilhamos, na qualidade de seres humanos e de membros das comunidades locais”.

Daí que o convite lançado para a comemoração da referida data (com o debate sobre o tema “Museus e Turismo”), por parte de todos quantos trabalham ou colaborem em instituições museológicas, seja de ampliarem a interacção com visitantes e turistas de modo a ser gerado um mais profundo relacionamento com as comunidades locais, conducente a um conhecimento do património existente “fora e dentro do espaço dos museus”.

Em Portugal tem aumentado significativamente, nos últimos anos, o número de museus; o distrito da Guarda não ficou fora dessa tendência. Contudo, há que definir, com rigor, o perfil e as características da instituição museológica.

De acordo com o ICOM, por museu deve entender-se “uma instituição permanente, sem fins lucrativos, que adquire, conserva, investiga, comunica e exibe para fins de estudo, educação e lazer, testemunhos materiais do homem e do seu meio”.

É inquestionável que o museu assume, cada vez mais, um eminente papel pedagógico e didáctico, afirmando-se, simultaneamente, como um eficaz meio de comunicação.

Numa sociedade onde, face às transformações económicas, se dá uma maior atenção à ocupação dos tempos livres, ao turismo e à cultura, compreende-se que seja reforçado o papel dos museus como centros de conhecimento e de ofertas plurifacetadas, aproveitadas pela Escola.

As concepções hodiernas do museu têm conduzido, nas últimas décadas, à criação de novos e inovadores espaços museológicos, de temáticas diferenciadas, e outrossim a uma nova prática na forma de expor os objectos e de os fazer “falar”. A nova museologia abriu promissores horizontes, mais abrangentes do grande público.

De um modo geral, as comunidades locais não geram mecanismo e atitudes de salvaguarda dos seus valores patrimoniais, já que do texto legal à actuação prática, vai, como sabemos, uma enorme distância; falta, muitas vezes, o primeiro impulso ou a consciência clara do caminho a seguir. É imperioso, neste contexto, desenvolver uma forte sensibilização, das pessoas e entidades, para que não se percam os valores existentes, assegurando a sua transmissão e conhecimento às gerações futuras.

O Museu está no centro deste processo e daí que o seu desenvolvimento tem de passar pelo apoio do público, do cidadão. O empenho e envolvimento dos amigos dos museus garantirá, por seu turno, uma imagem diferente destas instituições junto da comunidade.

O museu não é, hoje, “um mercado do tempo livre”, na elucidativa expressão de Francisca Hernández Hernández, mas um lugar de convivência e de encontro, na acepção mais lata da palavra.

Este encontro, que se deseja permanente, entre os visitantes dos museus e as regiões onde estão localizados deverá ser uma efectiva forma de desenvolvimento turístico e cultural, rentabilizando as nossas realidades e potencialidades, desenvolvendo novas propostas museográficas.

Naturalmente que a comunidade não se pode alhear das suas marcas identitárias mas deve ter delas um perfeito conhecimento, valorizá-las e contribuir para a sua salvaguarda; cair no comodismo ou esperar intervenções providenciais não levará a lado nenhum.

Aliás, saber qual o grau de conhecimento que os guardenses têm acerca do património citadino, dos Museus existentes na região, ou das mais expressivas tradições constitui, indubitavelmente, um bom tema para uma sondagem. Os resultados seriam, sem dúvida interessantes, sabendo que, pela observação empírica do cidadão comum não é difícil adivinhar o sentido que tomariam esses indicadores (uma reportagem emitida, recentemente, pela Rádio Altitude sobre o conhecimento da localização e funcionamento do Posto de Turismo foi …esclarecedora).

Verifica-se, sobretudo ao nível dos escalões etários mais jovens (mas não só), um grande desconhecimento sobre o passado da Guarda e o seu património mais significativo.

Evidentemente que com esse distanciamento e falta de ligação entre o passado e presente se torna mais difícil a consciencialização em torno da necessidade de defesa da identidade local, a afirmação de um espírito crítico, empenhado numa permanente defesa da memória colectiva e de novos rumos para o turismo cultural.

Se queremos incrementar a vinda de visitantes é fundamental que exista uma boa oferta, serviços de qualidade, apoio informativo adequado, uma disponibilidade para o bem servir e receber; que cada cidadão seja um agente esclarecido e promotor da divulgação da sua terra, dos seus museus.

Este debate proposto para o Dia Internacional dos Museus não pode ficar à margem da nossa atenção e intervenção.

Por: Hélder Sequeira

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