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A propósito de uma sondagem

Há quinze dias O INTERIOR noticiou que a escolha de Manuel Rodrigues para candidato à Câmara da Guarda não era tão unânime como se pretende fazer crer. Para sustentar a ideia, referiu que um grupo de militantes e dirigentes estava a contestar a decisão da concelhia com os resultados de uma sondagem em que o dito candidato tinha os piores resultados entre quatro nomes apresentados aos inquiridos. Mais, essa sondagem, internamente assumida com secretismo, era um instrumento de trabalho em jantares ou encontros de militantes, pelo que, o jornal procurou informar os seus leitores sobre os fundamentos ou argumentos que levavam alguns militantes a debater a escolha da concelhia laranja: Manuel Rodrigues.

Estes são dois factos indesmentíveis. A sondagem existe, tem um ano e os seus resultados são do conhecimento dos principais dirigentes do PSD local e distrital.

A questão é que a mantiveram em segredo até há quinze dias por ser altamente desfavorável a qualquer um dos quatro putativos candidatos referidos aos inquiridos (João Prata, Álvaro Amaro, Júlio Sarmento e Manuel Rodrigues) – quiçá por isso os três primeiros nomes não avançaram! Era derrota certa à partida, pois a vantagem do PS era vexatória. O estudo de opinião não deixava margem para dúvidas: qualquer desses possíveis candidatos perderia sempre contra Joaquim Valente, caso este se recandidatasse. Ou seja, em qualquer dos cenários “sondados” o PSD perdia.

Pelos vistos, Manuel Rodrigues terá sido o único a não ter conhecimento destes dados e avançou.

Segundo se percebe pelo destaque que um semanário local deu ao assunto, Manuel Rodrigues terá ficado incomodado com os dados revelados por O INTERIOR (a referência, apenas, ao facto de ser de entre os quatro nomes sugeridos no estudo de opinião o que tinha menor notoriedade). O provável candidato do PSD poderia ter solicitado informações a este jornal, de que é cronista (crónica política, mensal), ou contestar neste espaço a notícia, mas não, optou por usar outra publicação – onde parece ser uso e costume fazer fretes a amigos e gente do poder instalado (como se viu na semana anterior, em que esse jornal dava como vencedor antecipado das diretas do PS da Guarda o vereador e vice-presidente da Câmara que acabou derrotado no dia seguinte – se isso não é favor propagandístico, o que será?) – para apresentar o seu queixume falando mesmo de «atos de malvadez» por se divulgar informação ao leitor sobre os argumentos que se utilizavam entre alguns militantes para o contestar. A campanha ainda não começou, mas o provável candidato do PSD já mostra incómodo com notícias que não lhe são favoráveis.

De acordo com o nº 4 do artº 7 da Lei nº 10/2000 de 21 de junho, lei das sondagens e estudos de opinião, consideram-se «textos de carácter exclusivamente jornalístico» as peças jornalísticas nas quais exista uma mera referência a resultados de sondagens, ou seja, peças jornalísticas em que a revelação dos resultados de sondagens não constitui o seu enfoque central, segundo a interpretação da própria ERC no nº 2 da Deliberação 2008. Ora, o enfoque central da peça publicada por O INTERIOR a 20 de dezembro foi, como o seu título evidenciava – “PSD encomenda nova sondagem para validar candidato à Câmara da Guarda” – explicitando as dúvidas que o partido tinha na escolha e o porquê da decisão de encomendar para breve uma sondagem e em nenhum momento são, sequer, apresentados os resultados da mesma. Assim não havia nenhuma obrigação legal ou deontológica para a inserção da ficha técnica da sondagem, pois não eram apresentados resultados e o enfoque central da peça não era a própria sondagem.

Ainda assim, e para o melhor esclarecimento dos leitores, apresenta-se o respetivo relatório metodológico. A empresa já foi identificada na peça e o nome do cliente não é, como erradamente se escreveu na edição de 20 de dezembro, a CPD do PSD, mas um dirigente da mesma (da anterior e da atual Comissão), pelo que, pedimos desculpa aos leitores e à CPD do PSD pela alusão errada, mesmo sendo razoável que se interprete que foi em nome do órgão de que era um dos destacados dirigentes que foi feita essa contratação.

Nota da Direção

Ficha técnica. Universo: população com 18 e mais anos do concelho da Guarda. Amostra: 500 entrevistas. Distribuição da amostra: por sexo: m-24, f-260. Idade: 18-24 – 55, 25-44 – 165, 45-64 – 170, 65 e mais de 65 – 110; níveis de instrução: 1º ciclo ou menos – 250, 2º e 3º ciclos – 115, 12º ano – 90, superior ao 12º ano – 45. Seleção da amostra: seleção aleatória dos pontos de amostragem e dos entrevistados, proporcional do Censo do INE – 2001, por sexo, idade e nível de instrução. Entrevista: telefónica. Entrevistadores: 8 entrevistadores com 18 e mais anos, inscritos no censo eleitoral e com instrução igual ou superior ao 12º ano. Controle de qualidade: callback de 15% das entrevistas/entrevistador. Data da recolha da informação: 17/10 a 24/10/2011. Margem de erro: 4,4%, considerando p=q=50 e 95% de margem de confiança.

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