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À procura da liberdade

Agora Digo Eu

Promovido pela Fundação Francisco Manuel dos Santos, decorreu no passado fim-de-semana o 3º Encontro de Reflexão subordinado ao tema “À procura da liberdade”. Mais de uma centena de oradores, oriundos dos quatro cantos do planeta, debateram as formas de expressão da liberdade, tendo por base esta pequena pergunta: Sente-se livre?

Afinal o que é a liberdade? Terá futuro? Que formas de liberdade existem? O que é ser livre? A religião é uma liberdade? Qual o impacto da sociedade digital e da globalização na liberdade? As instituições protegem a liberdade? Os europeus são livres? E os portugueses? Ser livre é apenas ter opinião?

Optando por tentar responder, socorro-me da milenar tradição dos povos do deserto “Mashilma Navi” onde o ser livre pauta-se por três princípios: O sustento, a doação e a celebração. O primeiro tem a ver com o trabalho, o segundo com o ato de doar, considerado sagrado, tornando o espírito livre, enquanto o terceiro tem a ver com os comportamentos que são dotados de sabedoria e ensinamento. É este o momento alto da sublimação do individuo.

Martin Luther King, discursando no final da marcha para Washington a 28 de agosto de 1963, termina dizendo, «Que a liberdade ressoe». O problema é que essa pequena palavra, com apenas nove letras, segundo Drummond de Andrade, «é defendida em discursos e atacada com metralhadoras».

É mesmo por isso que se torna absolutamente necessário lutar todos os dias por ela. No belíssimo e interessante discurso final de “O grande ditador”, realizado em 1940, Chaplin termina dizendo «Lutai pela liberdade», mesmo percebendo que o pensamento livre nos leve e nos transporte a momentos e lugares bonitos onde o sonho nos permita imaginar «todas as pessoas vivendo a vida em paz, compartilhando todo mundo» nesse utópico e imaginário sonho que Lennon tinha de um mundo sem amarras.

Neste planeta que habitamos onde a globalização não é tão libertadora quanto nos dizem ser, o racismo, a intolerância, a riqueza, a pobreza, a falta de justiça, o choque de civilizações onde o outro é sempre visto e julgado pelo nosso ponto de vista, pela nossa cultura, a incompreensão que demonstramos para defender uma sociedade pluralista e multicultural obriga-nos a entender que encontros como este, tendo como ponto de partida a procura da liberdade, faz pensar e refletir que é indispensável estarmos permanentemente atentos, despertos e interessados aos movimentos que atentam todos os dias contra a liberdade de cada um, nesse processo coletivo onde se tenta impor ditames, decretos, comportamentos e leis que não ajudam a cimentar democracia e destroem (quase) por completo o conceito da liberdade. Para tanto nem é preciso sair do nosso cantinho-à-beira-mar-plantado. Jorge de Sena explica: «Tem cuidado contigo. Quem te respeita é um amigo. Quem não respeita não é. Liberdade, Liberdade tem cuidado que te matam».

Sejamos assim arautos desta mensagem, nessa luta diária, interessante e insistente, tornando-nos guerreiros da causa mais nobre que o Homem pode e tem de abraçar: A LIBERDADE.

Por: Albino Bárbara

* Escreve quinzenalmente

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