Arquivo

A problemática da Segurança Alimentar

Crónica Política

A produção de alimentos e a qualidade final que apresentam têm sido objecto de enormes interrogações. Para tal contribuíram os últimos anos que foram pródigos em escândalos alimentares que não são demais relembrar: a crise das dioxinas na Bélgica; os casos de BSE na Europa; as ovelhas com “scrapie”; os frangos com nitrofuranos; os elevados teores de mercúrio no peixe; a acumulação de nitratos nos vegetais; etc. Tudo isto tem-nos deixado completamente apreensivos e sem saber o que fazer em relação à nossa alimentação.

A questão é que todos estes problemas acabaram por dar razão às inúmeras manifestações de agricultores, movimentações de cidadãos e opiniões de muitos cientistas que colocaram em causa a qualidade de produtos alimentares obtidos de forma cada vez mais intensiva e industrializada com recurso ao uso de factores de produção sintéticos de forma indiscriminada aniquilando, de vez, com a diversidade biológica e com o bem-estar animal.

Hoje, a produção agrícola não é ditada pelas regras da natureza (condições edafo-climáticas, estações do ano, etc.), muito menos pelas tradições locais, mas sim pelas regras da Organização Mundial do Comércio e da Política Agrícola Comum para as quais contribuem as pressões das multinacionais da industria química e agro-alimentar.

No entanto, não tenhamos ilusões! Como tudo na vida é necessário evoluir.

O que é inadmissível é que esta evolução se compadeça, unicamente, com critérios de ordem económica onde a obtenção do maior lucro possível de forma rápida seja o único objectivo. O que está a acontecer é que o caminho para atingir este objectivo está a ameaçar por completo a agricultura familiar, a saúde dos consumidores, a delapidar de forma galopante o ambiente e os recursos naturais e a destruir as fragilizadas economias dos países em desenvolvimento com o consequente aumento da sua pobreza.

Se é certo que cada vez mais os consumidores desconfiam daquilo que lhes apresentam no prato, a sua opção acaba por estar condicionada pela oferta do mercado, pela escassez de informação e pelas operações de marketing que valorizam a imagem do produto em detrimento da sua qualidade.

Esta situação só pode ser alterada se existir pressão sobre os órgãos políticos para que coloquem na ordem do dia esta discussão.

O Partido Ecologista “Os Verdes” apresentou, no final de Janeiro, uma declaração política na Assembleia da Republica sobre esta matéria. Esta semana lançou uma campanha a nível nacional sobre esta temática com o intuito de, por um lado sensibilizar e esclarecer a opinião publica e, por outro, pressionar o Governo para a tomada de medidas que se encontram adiadas.

O que se pretende, urgentemente, é que a insegurança alimentar que vigora hoje seja substituída por uma política de Segurança Alimentar que nos tranquilize, que existam medidas fiscalizadoras eficientes sobre a produção e produtos alimentares finais e que a Agência para a Segurança Alimentar entre em funcionamento rapidamente.

Por ser um problema global que a todos diz respeito é necessário que cada um contribua pressionando e exigindo esclarecimentos e, sobretudo, segurança.

Por: João Nuno Pinto

Sobre o autor

Leave a Reply