Julgo que, no futuro, devem ser plantadas árvores na Praça Velha, o suficiente para reduzir esse tamanho percebido da Sé, criando cor, textura, sombra e mais intimidade. Paralelamente a isso devemos reabrir as sanitários (recuperados) e planear a repavimentação da Rua dos Cavaleiros.
Há quem julgue que os monumentos clássicos devem ficar totalmente expostos, e sem árvores. Esse não é o meu ponto de vista. Monumentos poderosos como a Sé, ou a Batalha, dominam os seus recintos com tanta força que não precisam da “protecção” de árvores; ao contrário, ganham da sua presença.
Paris têm mantido as árvores na Ile de la Cité e a belíssima Notre Dame (Igreja da Nossa Senhora) é rodeada – e até escondida em parte – por árvores seculares. Como uma linda mulher bem vestida, a beleza da igreja é realçada. Em Lisboa, a Sé Catedral e a Igreja de Santo António beneficiam da presença das árvores adjacentes. Também o Largo do Carmo, em frente às ruínas do Convento do Carmo, está cheio de árvores – que proporcionam prazer aos muitos visitantes e residentes. Na Guarda, a Misericórdia ganha com a presença das árvores tão bem posicionadas no Largo João de Almeida – mas aquela fachada ainda pode ser vista na totalidade.
A cidade desfruta de uma vantagem especial – o clima da Beira Interior. Na Guarda, as nossas árvores mudam dos verdes de Verão aos ouros clássicos do Outono e, finalmente, aos cinzentos delicados do Inverno. Essas mudanças dramáticas contribuem muito para criar um ambiente humano e natural. Infelizmente, na densa malha urbana intermuralhas não há nem uma árvore entre o Largo do Torreão e o jardim da Associação Comercial.
Entradas e Acesso
A via utilizada pelos carros, junto à Pastelaria Orquídea, Santiago, Vodafone, Oliva, e depois o Artesanato e o Café Garrida, é a única parte da Praça que será permanentemente usada por veículos. Julgo que, a longo prazo, esta rota continuará a ser essencial. Faz parte do sistema de circulação para o centro e fornece um elemento de animação visual – um espaço totalmente isento de veículos pode ser muito estéril.
Mas precisamos de elementos de “entrada” onde a Rua 31 de Janeiro chega à Praça. Esta entrada tem dois elementos, primeiro uma mudança no tipo de pavimento, e segundo alguns elemento(s) verticais – não necessariamente grande. Estes devem representar uma clara mensagem para o peão e o motorista: «Está a entrar num lugar importante e diferente».
Os elementos arquitectónicos são complexos. A Câmara reconheceu o valor destes símbolos quando colocou aqui os dois portões temporários para o Mundial e as Festas da Cidade. Essas estruturas, ao topo da Rua 31 de Janeiro e na Rua do Comércio, tinham a escala e o estilo ideal, e serviram perfeitamente para identificar a zona das actividades e criar expectativa. Mas elementos permanentes à entrada da Praça serão um desafio para qualquer arquitecto.
A Rua do Comércio (à Misericórdia) é estreita e acolhedora e não precisa de mais do que modestos elementos para o controlo de veículos. O mesmo já não acontece onde a Rua Francisco de Passos desemboca na Praça, pois é um espaço que precisa de mais definição.
Ao pé do Cibercentro, temos um complicado ponto de encontro de três ruas: a 31 de Janeiro, General Póvoas, Bernardo Xavier (os degraus) e a Praça Velha. Esta zona ainda é confusa, um “no man’s land” (terra de ninguém), e precisa de mais desenho e sinalização. Ao chegar aqui, o automobilista (e temos que assumir que ele não conhece a cidade) deve compreender sem dúvidas como e aonde pode circular. Entretanto, o peão tem que ter a sua própria zona e sentir-se mais seguro.
Os pavimentos
No futuro será necessário mudar os pavimentos do “loop” para veículos ao lado poente da Praça, indicando mais claramente a sua função. Será uma balança delicada. A superfície deve avisar os condutores que estão a passar numa zona dedicada aos peões – crianças, em particular – e que não podem circular a mais de 30 km/h. Ao mesmo tempo, o pavimento tem que recordar aos miúdos que um carro pode aparecer a qualquer momento.
Alternar cada banda (45cm) de lajes com outro material escuro seria uma possibilidade, e há muitos materiais já empregues na Guarda que sugerem soluções. Claro que os pequenos blocos de granito são mais tolerantes ao óleo e pneus do que as lajes de granito, e são fáceis de retirar e recolocar para reparações. O tijolo escuro é elegante e as várias passadeiras de pedras mistas, ou de pedras com tijolos, têm sobrevivido a milhares de veículos.
No lado nascente da Praça, onde ficam aos prédios vazios, a superfície beneficiaria de mais detalhe visual. O nosso olhar acostuma-se à presença de passeios, e os novos espaços pedestres parecem frequentemente incompletos na sua ausência. Os novos pavimentos nas ruas do Comércio e Francisco de Passos – que são excelentes – ultrapassam o problema por fazerem uma clara alusão às antigas passadeiras com as misturas de pedras pequenas e bandas de lajes. Na estreita Rua Dom Sancho, toda em granito, os blocos elevados ao pé das fachadas deixam a rua esteticamente mais completa e acabada.
Um factor contraditório para a Praça Velha vai ser o sucesso da Rua do Comércio. É óbvio que essa artéria tinha a combinação certa de largura, comprimento e intimidade para tornar-se um êxito, agora juntando esplanadas às lojas. Na Praça, ainda temos os prédios vazios ao lado nascente e, provavelmente, o retalho será a melhor aposta porque a Praça suportaria mal ainda mais comes e bebes.
Confiança
Fiquei muito encorajado pelo desenvolvimento feito, ou bem encaminhado, nos últimos três anos. As obras do Polis, o empreendimento privado na Rua do Torreão e os emblemáticos Teatro Municipal, Biblioteca, Centro de Estudos Ibéricos e Cibercentro, mais o esperado centro comercial Forum Theatrum. Ao mesmo tempo, é claro que alguns problemas inerentes à zona antiga da cidade ficarão connosco por muitos mais anos.
Mas o trabalho agora feito, fora e dentro das muralhas, e as políticas da Câmara nesta zona, deixam-me mais confiante no valor do meu investimento no Centro Histórico.
Por: Rory Birkby