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A Política e os Negócios

Crónica Política

Na campanha interna do Partido Socialista para as eleições diretas, que ocorreram este fim de semana, assistimos a continuadas afirmações, mais inflamas na forma do que informadas na substância, por parte do agora demissionário secretário-geral dos socialistas, António José Seguro, de que deve haver uma fronteira clara entre a política e os negócios!

É certo que os resultados internos representam uma clara vitória da ala socrática do partido e, por isso, o regresso da “businesses politic”!

Porém, a demagogia com que esta ideia é apresentada merece uma reflexão seria sobre a proposta.

A forma como é afirmada parte do princípio de que os negócios são uma coisa má e a política uma coisa boa.

Mas foi a má política que estragou os negócios em Portugal, afundando a economia nas consequências do ajustamento negociado com a “troika”.

É certo que estamos de acordo com a necessidade de se assegurar na condução da vida pública a transparência, o rigor, a legalidade e uma ética inquestionável, que seja incorruptível aos maus negócios.

Porém, na verdade, o sentido com que a afirmação foi produzida pretende valorizar quem faz política e diabolizar quem se dedica ao negócio.

Ora, na realidade, o que se verifica é que quem tem capacidades profissionais, seja em que área da economia for, tem sucesso nos negócios e quem não tem, em regra, dedica-se à política.

Talvez por isso a política que deveria servir para apoiar e desenvolver a economia, é dirigida, em geral, por quem pouco percebe do mundo dos negócios.

Mas esta afirmação não é isolada, ou produzida apenas em contexto, faz parte de uma cultura jacobinista, muito presente na esquerda portuguesa, de que o mercado é uma coisa ruim e o Estado deveria estar presente, por si, em todos os domínios da vida em sociedade.

Para alguns destes, deveríamos ser todos funcionários públicos, para afirmar um princípio geral de igualdade entre todos os cidadãos.

Ora, se assim fosse, bem podíamos perguntar onde é que o Estado iria buscar o dinheiro para pagar o salário a todos os portugueses se todos fossem empregados públicos.

Se todos descontassem para impostos 30 por cento do que ganham de onde viriam os 70 por cento que faltam e que constituiria o défice orçamental?

Pois é, quem paga os 70 por cento do salário de cada funcionário público, porque 30 por cento descontam os próprios nos seus impostos, é a economia privada, os pequenos, médios e grandes empresários e as respetivas empresas do setor privado. Isto é, são os negócios que pagam 70 por cento do salário dos políticos!

Os empresários pagam não só 100 por cento do vencimento aos seus trabalhadores e ainda, no seu conjunto, 70 por cento das pensões e vencimentos da função pública!

Na verdade, a questão essencial a resolver na vida social e económica portuguesa é a dimensão e o peso na despesa do setor público em Portugal que os políticos demagogos construíram.

A economia e os negócios, que têm de pagar o peso do Estado, a sua ineficiência e ainda os políticos incompetentes, precisam, para se desenvolverem, de acesso fácil ao crédito, juros baixos, na dimensão do que acontece na Europa do Norte e, sobretudo, menos burocracia.

Ora, só haverá juros baixos e acesso fácil ao crédito se a banca nacional se financiar nos mercados internacionais a juros baixos, pelo que é essencial que o Estado assegure estabilidade, rigor orçamental, controle do défice público para que os juros nos mercados onde o Estado e a Banca se financiam sejam suficientemente baixos.

São estas questões que deveriam estar na agenda política, como se controla o défice, como se pode diminuir o peso do Estado, como reduzir o endividamento e assim poupar na despesa, quais as reformas estruturais a realizar, como estabilizar um consenso nacional nesta matéria que permita aos mercados sossegar e acreditar definitivamente em Portugal!

É bom que os políticos respeitem mais quem está no mundo dos negócios, que faz movimentar a economia e que lhes paga a maior parte do salário.

Até quando teremos de continuar a ouvir a voz dos sindicatos da função pública, que também depende do sucesso dos negócios e da economia para lhes pagarem 70 por cento dos seus vencimentos e outros privilégios, que pagando apenas 30 por cento, fazem tanto barulho e tanta greve que prejudicam a economia e o Estado.

Quando é que os nossos sindicatos aprendem com as suas congéneres internacionais a privilegiar o diálogo e a concertação com o Estado e os empresários, o que aliás já acontece com a UGT?

Até quando aqueles que pagam os 70 por cento dos vencimentos da função pública – isto é, o mundo da economia e dos negócios, que não protestam mesmo quando castigados pela enorme carga fiscal, que não fazem greves mesmo quando lhes sobravam motivos – terão de aturar os políticos demagogos que vivem e sempre viveram a custa do Estado?

Por: Júlio Sarmento, antigo presidente da Distrital da Guarda do PSD e ex-presidente da Câmara de Trancoso

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