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A política como espelho

“…o povo português é um menino pequeno e mimado. Não gosta de comer a sopinha toda nem fazer os trabalhos de casa. Só gosta é de brincar, descansar da brincadeira e exigir a mesada ao fim do mês. Na sua generalidade, não gosta de políticos honestos da mesma forma que sempre odiou os professores sérios. Aqueles que não admitiam erros na redacção e, severos, obrigavam a estudar a tabuada”.

“Nas próximas eleições vamos votar nas prostitutas. Estamos fartos de votar nos filhos delas e sem bons resultados…”. Esta piada brasileira reflecte a facilidade em fazer piadas sobre políticos. A nossa tradição revisteira leva-nos a parodiar com as figuras públicas. Os políticos, sempre na linha da frente, são os mais expostos e, por isso, as vítimas mais usuais da nossa sátira popular. Vários estereótipos surgem articulados com a palavra “político” – charlatão, fala-barato, mentiroso, distraído (em relação às promessas eleitorais). Quando as coisas aquecem, o calão português torna-se mais desinibido e vai tudo corrido de filhos da outra para cima…

No entanto, como nem todos são filhos dessa mesma mãe, existem políticos esforçados, com valores próprios e sacrificados pela causa pública. Gente que trabalha com afinco, que acredita e luta por ideias. Ora acontece que, os políticos honestos, geralmente têm um enorme defeito: fazem o que devem, não o que o povo gostaria que fizesse. Terrível!!! Vá lá a ser honesto para a casa dele…. É que o povo português é um menino pequeno e mimado. Não gosta de comer a sopinha toda nem fazer os trabalhos de casa. Só gosta é de brincar, descansar da brincadeira e exigir a mesada ao fim do mês. Na sua generalidade não gosta de políticos honestos da mesma forma que sempre odiou os professores sérios. Aqueles que não admitiam erros na redacção e, severos, obrigavam a estudar a tabuada.

É por isso – mas não só – que gente demasiado séria tem dificuldade em andar na política. E com a saída dos gatos, já se sabe…chegam os ratos. É talvez por isso, que os Partidos deixaram de ser plurais e passaram a ser Clubes de alguns. É por isso que olhamos para a Assembleia da República e nos repugna ver determinados deputados da Nação. É por isso que sentimos que o poder local começa a ser invadido por gentinha menor. Antigamente, existiam figuras que respeitávamos, ainda que estivessem num plano ideológico diferente do nosso. Agora são cada vez menos. Acabou a geração das ideologias e chegou a geração da gente prática. Dos políticos que já aprenderam que um título de jornal vale mais que um comício. São os políticos do prime-time que aprenderam que o povo gosta de ouvir o que quer ouvir.

Diz-se por graça que 93% da população não acredita nos políticos e que os outros 7%… são políticos. Mas na verdade esta classe política é a que o povo escolheu e o povo venera. É este o reflexo, a imagem que nos devolve o espelho da nossa democracia. É esta a nossa maturidade. Na hora de votar, a verdade é que o povo gosta de mentiras, de enganos, de discursos bonitos… depois fala mal dos políticos que elege. Mas quando algum passa logo lhe faz uma vénia até aos pés. Lembram-se daqueles “cães” que nas traseiras dos carros abanavam a cabeça? Pois, agora parece que vão aos volante… abanam a cabeça sem sentido crítico e, depois, queixam-se!

Por: João Morgado

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