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«A pedra de toque para o país sair da crise é, inevitavelmente, a reforma do Estado»

Cara a Cara – Pedro Quinaz

P – O que fez para ganhar este prémio?

R – Sempre soube que a participação no Primus Inter Pares seria um desafio de enormes dimensões. Ciente do elevado nível dos meus colegas – qualquer um deles poderia ter vencido –, empenhei-me desde o início em todas as provas, tentando sempre dar o melhor de mim. Grande parte da minha preparação foi, no entanto, feita ao longo dos anos. Através do esforço e da dedicação colocada na minha vida académica e profissional, e apoiado nos ensinamentos de professores, amigos e colegas, julgo ter adquirido “hard” e “soft skills” que acabaram por se revelar determinantes neste concurso.

Por tudo isto, aproveito esta oportunidade para agradecer à minha família, namorada e amigos pelo apoio constante; às instituições e colegas que me acolheram enquanto estagiário (em especial a Caixa Geral de Depósitos da Guarda, de onde guardo excelentes recordações) e aos professores que tiveram a paciência de me ensinar na Escola Secundária da Sé e, posteriormente, no ISCTE.

P – Quais são os seus projetos para o futuro?

R – As minhas vivências permitiram clarificar a minha vocação, confirmando áreas ligadas à Gestão Financeira (Supervisão Bancária) e à Consultoria Estratégica como opções primordiais de carreira. Estou convicto que a prossecução de uma carreira nestes campos me realizará profissionalmente e, neste âmbito, espero agarrar oportunidades que me permitam vir a ser um talento na minha área de “expertise” e ter a oportunidade de crescer dentro da minha organização de trabalho. A minha experiência no Banco de Portugal tem sido um enorme privilégio e representa muito para o meu futuro. A imersão diária num ambiente meritocrático, em que desenvolvo atividades do meu interesse, tem-me convencido de que a prossecução de uma carreira nesta instituição será o passo correto a tomar. Tanto mais que o meu desejo é continuar a desenvolver as minhas capacidades na área da Supervisão Bancária, ganhando uma visão holística do sistema que me permita assumir um papel de maior responsabilidade no futuro. Por outro lado, não posso também colocar de parte o desejo de iniciar o meu próprio negócio, embora precise ainda de encontrar uma ideia diferenciadora que possa traduzir-se num modelo empresarial viável.

P – Tendo em conta a situação do país, qual é, para si, o caminho para sairmos da crise?

R – Portugal tem, neste momento, dois problemas fulcrais. O primeiro é o da solvabilidade do República Portuguesa, que se traduz na iminente possibilidade de “default” [incumprimento] do Estado. O segundo é estrutural e, na minha opinião, mais grave, prendendo-se com a falta de competitividade da economia nacional. Encontrar a solução para uma situação calamitosa como esta não é fácil, sobretudo pela natureza paradoxal da questão. Com efeito, a solução (implementada nos últimos anos) para o défice orçamental poderia passar pelo aumento de impostos, não fossem as enormes consequências desta medida para o investimento e para a competitividade do tecido empresarial nacional. Neste contexto, é acima de tudo prioritário encontrar medidas que promovam o sucesso das empresas portuguesas: é preciso dar-lhes condições para que sejam competitivas e, por consequência, lucrativas. Muitas das medidas que poderiam ser tomadas neste sentido envolvem a saída do euro. As catastróficas consequências cambiais e inflacionistas associadas a esta opção desaconcelham-na. Resta-nos, assim, uma solução: aliviar os encargos das empresas e facilitar-lhes a sua atividade, desburocratizando e agilizando processos legais, fiscais e laborais. A pedra de toque é, inevitavelmente, a reforma do Estado. Atuar sobre o lado da despesa deveria ser a prioridade do Governo, como atestam irrefutavelmente os dados mais recentes. Esta atuação permitiria, por sua vez, reduzir a carga fiscal sobre as empresas, deixando-as “respirar”.

Parece-me também que a reforma da justiça deveria ser efetuada a todo o custo: a sua lentidão é uma das maiores preocupações dos agentes económicos nacionais. Um investidor colocaria o seu dinheiro num país em que cada incidente processual adicional aumenta a duração de um processo em 317 dias (como reportado pelo estudo da Fundação Francisco Manuel dos Santos)? Bem sei que as medidas que defendo têm custos sociais. É importante perceber, no entanto, que a oportunidade para boas decisões passou há 15 anos atrás. As escolhas erradas do passado levaram-nos até aqui: resta-nos escolher a opção menos má. Uma última nota para relevar a importância do bom senso em qualquer ação governativa, pois qualquer plano deve ter sempre em consideração os dois lados da concertação social. Por outro lado, é também fulcral apelar à classe política para que abandone promessas populistas: a criação de estágios municipais ou a realização de obras públicas não tem outro efeito que não a erosão do já depauperado erário público.

P – E no caso da Guarda, o que se deve fazer para atrair empresas e investidores?

R – O desenvolvimento da cidade passa pelo aproveitamento das suas características únicas e, por consequência, diferenciadoras, como a posição geoestratégia da Guarda, que se reveste de especial centralidade a nível ibérico; a qualidade do ar e da água; a paisagem campestre e a proximidade à Serra da Estrela. Para isso, deveriam criar-se condições para que empresas nas áreas do Turismo de Saúde, do Turismo Rural e da Logística e Distribuição tivessem incentivos reais para investir na cidade.

P – Tem alguma ideia/sugestão em concreto?

R – A nível nacional, o reforço do programa de rescisões amigáveis e do regime de mobilidade na função pública; restrições mais severas à renovação de quadros na função pública; redução da carga fiscal (IRC e TSU); a renegociação das PPP, a promoção do pagamento atempado das dívidas do sector público ao sector privado; a implementação do pagamento do IVA apenas no ato do recebimento e a reforma do sistema de justiça, entre outras. A nível local, devia apostar-se na redução dos impostos locais (a derrama, pese embora o seu já baixo nível); na promoção da relação entre as instituições de ensino (IPG e escolas profissionais) e as empresas através da adequação da oferta educativa à procura do mercado de trabalho e da criação de programas de estágio não remunerados. Os responsáveis deveriam também reduzir o custo de terrenos e instalações municipais localizadas na PLIE e no parque industrial.

P – Qual é o aspeto da Guarda de que tem mais saudades?

R – Tenho especiais saudades da tranquilidade do dia-a-dia. A forma calma como se desenrola a vida na região, em conjunto com a simpatia própria das pessoas da Guarda, confere à cidade uma qualidade de vida difícil de igualar.

Pedro Quinaz

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