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A origem dos Lusitanos

Nos Cantos do Património

Os Lusitanos fazem parte do imaginário nacional português. Os feitos guerreiros deste povo pré-romano fizeram eco na historiografia nacional pelo menos desde a época da Renascença. O seu vínculo à Serra da Estrela tem sido também visto como um dado adquirido. Segundo a tradição, Viriato, o grande herói nacional lusitano que combateu as forças invasoras romanas no século II antes de Cristo, terá nascido na pequena aldeia de Folgosinho.

Mas, afinal, quem eram os Lusitanos? Para diversos historiadores, a primeira referência aos Lusitanos encontra-se num texto do VI a.C. (cerca de 530). Com efeito, a famosa “Ora Marítima” do poeta latino do século IV d. C. Rufo Festo Avieno, baseada num périplo do século VI a.C., faz referência a uns Ligus, Lusis ou Lycis. A partir deste nome ter-se-á formado, mais tarde, o etnónimo Lusitanos.

Já em época romana, os Lusitanos foram integrados numa província denominada precisamente Lusitânia, cuja capital foi estabelecida em Mérida. Numa inscrição romana, patente na grande ponte de Alcântara, junto à passagem fronteiriça de Segura, são listados diversos povos da Beira Interior e da Beira Alta que integravam a província da Lusitânia. Só alguns deles eram Lusitanos propriamente dito. Entre os Lusitanos referidos na inscrição latina estavam os igaeditanos, os taporos e, provavelmente, os lancienses.

Estes Lusitanos adoravam diversas divindades que actualmente se podem ler em muitas pedras de altar espalhadas por toda a Beira Interior mas, também, na vizinha região espanhola de Cáceres. Trata-se de divindades como Banda, Nabia, Reva, Arentio e Arentia, Trebaruna, entre outros. Algumas destas divindades aparecem na famosa inscrição em língua Lusitana do Cabeço da Fráguas, já por diversas vezes referida nesta mesma coluna.

Mas, então, onde estariam as raízes dos Lusitanos do século VI a.C.? Diversos investigadores têm apresentado algumas hipóteses sobre este tema continua envolto em controvérsia. Para Jorge de Alarcão, os Lusitanos instalaram-se na Beira Interior no início Bronze Final, ou seja, na transição do primeiro milénio antes de Cristo e terão vindo de além Pirinéus. No entanto, para outros investigadores, os Lusitanos seriam povos autóctones, estabelecidos desde longa data na Beira Interior, pelo menos desde o período Neolítico ou Calcolítico, ou seja, desde o V ou IV milénio antes de Cristo.

Outros, ainda, consideraram os Lusitanos um povo originário da área mediterrânica da Península Ibérica, emigrado em data anterior ao séc. VI a.C.. Qual destas hipóteses se encontra mais próxima da verdade? Por enquanto, não é possível saber. Só com o avanço da investigação arqueológica na área ocupada pelos Lusitanos se poderá ter um conhecimento mais próximo deste povo e da sua origem. De qualquer modo, a ocupação da Beira Interior por comunidade humanas desde o período Neolítico está mais do que comprovado pela investigação arqueológica. Mesmo nas proximidades da cidade da Guarda, junto à povoação do Barracão, foram identificados os vestígios de um pequeno povoado do período Neolítico ou Calcolítico.

Para aprofundar o tema ver J. de Alarcão– Novas perspectivas sobre os Lusitanos (e os outros mundos). Revista Portuguesa de Arqueologia. Volume 4, n.º 2. 2001.

Por: Manuel Sabino Perestrelo

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