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A Novela II

Coisas…

Na semana passada ficámos a saber que um senhor deputado da nação eleito pelas listas do PPD no distrito de Castelo Branco deu uma conferência de imprensa para denunciar a intenção deste governo de encerrar as maternidades da Guarda e da sua própria terra. Aproveitou para informar igualmente que iria pegar num requerimento em tempos (outros tempos) dirigido ao governo de Santana Lopes por José Sócrates e Fernando Serrasqueiro exigindo a manutenção da maternidade de Castelo Branco, copiá-lo e reenviá-lo, mas desta vez ao ministro da saúde socialista. A parte cómica da notícia foi guardada para o fim quando o jornalista informa que não conseguiu contactar o deputado do PPD pelo círculo da Guarda, Miguel Frasquilho, no sentido da obtenção de um comentário; é evidente que sabemos todos que esse deputado nem tem dormido com a preocupação que este e outros assuntos da Guarda lhe provocam! A notícia, no entanto, ainda nos levanta outra dúvida: onde estaria o tal deputado de Castelo Branco que agora copia o requerimento de Sócrates e companhia, quando o original foi feito? Que pensaria ele na altura, quando o mau da fita era o PPD no poder?

Bom, esta salgalhada remete-nos para os “políticos” que temos e para a democracia que praticamos. Resumindo, dir-se-á: quando o governo é PPD e quer encerrar maternidades, os socialistas indignam-se, fazem requerimentos e dão conferências de imprensa. Passados uns anitos, a coisa muda e o mau da fita passa a ser o socialista (agora calado que nem um rato) e quem dá conferências de imprensa e copia requerimentos são os outros. Concluindo: assim não vamos lá.

Ainda na semana passada ficámos igualmente a saber aquilo que já sabíamos há muito tempo: há grávidas do distrito a ser “desviadas” para as maternidades vizinhas o que prejudica a casuística da nossa e impede a obtenção do tal número mágico de mil partos por ano. Esta realidade é complexa e merece meditação: não podemos esperar que sejam os políticos a resolver questões que apenas lhes servem para a obtenção de dividendos eleitorais. Há muito tempo que se sabe que a articulação entre o hospital distrital e os cuidados primários, a medicina familiar, é deficiente. Recordo-me de em tempos, quando Fernando Girão tomou posse como director do Sousa Martins, ter apontado o facto de que a sua proveniência podia constituir uma vantagem na melhoria desta articulação.

Se a maternidade da Guarda tem um potencial humano, técnico, logístico e demográfico para se constituir como serviço de excelência, não poderá alcançá-la sem a colaboração e a imaginação de quem lá trabalha, mas também de quem dirige o hospital. E, não tenhamos dúvidas, se o tema “encerramento da maternidade” não passar, aqui na Guarda como em Castelo Branco, de um joguete político entre PS’s e PSD’s, dentro de muito pouco tempo ficamos todos a ver navios.

PS: É curioso como não se vê nenhum responsável apontar os pouco mais de 600 partos da Covilhã, a escassez de profissionais médicos que nem permite que haja 2 obstetras de serviço nas 24 horas ou a escassez de anestesistas que impede a realização de analgesia do parto. É curioso que ninguém se preocupe com o possível (e lógico) encerramento da maternidade da Covilhã. Porque será?

Por: António Matos Godinho

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