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A noiva-cadáver

Crónica Política

Para os mais atentos e conhecedores, a nomeação de Ana Manso para presidente da ULS da Guarda constituiu uma verdadeira aberração.

Sempre que Ana Manso ocupou posições de relevo na direção de hospitais ocorreram “situações anómalas”, “má gestão”, “clara consciência da ilicitude das sua conduta”, “atitude negligente”, “má compreensão dos seus deveres profissionais”, “obtenção de benefícios económicos”, “violação dos deveres de isenção, zelo e lealdade” e “conduta lesiva dos interesses patrimoniais que lhe cumpria administrar”. Acabei de citar.

Foi por isso visada e condenada em sucessivos processos de inquérito e disciplinares, instaurados e coordenados por instituições como a Inspeção-Geral da Saúde e o Tribunal de Contas. Foi (parcialmente) salva por prescrições e amnistias, mas ainda assim perdeu os recursos dirigidos ao Tribunal Administrativo, tendo sido condenada a repor avultadas verbas ao Estado. Acabou demitida compulsivamente do cargo de presidente do conselho de administração do Hospital Distrital de Castelo Branco e não mais voltou a ocupar cargos dessa natureza. Até agora!

Dela terá dito o antigo ministro Arlindo de Carvalho, em jeito de desabafo: «Quem gere mal num lado, não pode fazer melhor noutro»!

Mas ainda assim, alguém decidiu nomeá-la para a presidência da maior instituição deste distrito. Viva a nossa florescente partidocracia!

Em pouco mais de meio ano, a gestão de Ana Manso revelou os mesmos sinais que haviam caracterizado as suas passagens por outras instituições políticas e de saúde: nepotismo, conflituosidade, decisões polémicas e ilegais, arbitrariedade e uma recorrente tendência para submeter os interesses das populações e das instituições aos seus interesses pessoais ou políticos.

Só assim se podem interpretar os ecos que nos chegam da ULS, onde há serviços sem direção nomeada, falta de diretrizes sobre o futuro da instituição, mau ambiente geral e desmotivação dos funcionários, e onde a contratação de João Bandurra, de um assessor de imagem oriundo da sede partidária, e o folhetim Francisco Manso – que já voltou a administrar ali para os lados de Castelo Branco – evidenciam em pleno que algo cheira a podre neste reino.

A este estado de espírito respondeu Ana Manso com a megalómana ideia de um futuro meio-hospital construído às fatias e ao custo da uva mijona. Ou, agora, com a fabricação de notícias que a dão como a melhor gestora do mundo.

Quem não é parvo já percebeu que não vamos ter hospital nenhum, ou que se tivermos, nunca será digno de tal nome. E mesmo sem grandes dotes contabilísticos, dá para perceber que a tortura de números a martelo, até que chorem, à custa de atrasos na liquidação de faturas e de horas extraordinárias e do alívio dos subsídios de férias que não tiveram de ser pagos, bem como de outros truques dignos de artistas de circo, apenas transformam alguém que advoga o nepotismo familiar e partidário como método de gestão, naquilo que efetivamente é: uma amostra da massa humana à qual este pobre país foi entregue pelo governo de Passos & C.ª.

Com a preciosa ajuda desta senhora, a hipótese da autarquia guardense vir a mudar de mãos transforma-se numa miragem cada vez mais longínqua, à medida que a imagem do seu partido, atolado na habitual hipocrisia e corporativismo políticos, se confunde cada vez mais com a imagem dela própria.

Claro que as rivalidades entre as diversas fações laranjas – à média de uma por militante – muito à pala das tropelias de Ana Manso na sua família política, explicam a falta de empenho do PS local em apontar o dedo aos dislates gestionários da senhora de que falamos. Com tanto escândalo e disparate, basta ficar caladinho e colher os frutos.

Afinal, as autárquicas aqui pela Guarda vão andar mais à volta do hospital do que de qualquer outra coisa que por aí venha. E o melhor trunfo eleitoral do PS é, no momento atual, a própria Ana Manso!

Guerrinhas políticas à parte, o distrito vê assim gorar-se em definitivo a hipótese de ter um hospital moderno e bem equipado na sua capital. Em compensação herdámos do PSD esta espécie de noiva-cadáver, o que, convenhamos, é bem pouco para aquilo que nos foi prometido. E ao contrário do filme de Tim Burton, que tem o mesmo título, este não terá um final feliz… para desgraça de muitos de nós.

Por: Jorge Noutel

* Deputado do Bloco de Esquerda na Assembleia Municipal da Guarda

Comentários dos nossos leitores
Silvia Macedo enf.silviamacedo@hotmail.com
Comentário:
“A Unidade Local de Saúde da Guarda terminou o primeiro semestre deste ano com um resultado operacional positivo superior a três milhões de euros, o que a torna na instituição com os melhores resultados da Administração Regional de Saúde do Centro e a segunda melhor do país, numa estatística que engloba todos os hospitais, Centros Hospitalares e ULS. Segundo dados da Administração Central do Sistema de Saúde, o Centro Hospitalar da Cova da Beira surge com um resultado negativo de 5,6 milhões de euros e a ULS de Castelo Branco com um resultado positivo de 2,4 milhões. Comparando com os resultados em junho de 2011, a ULS da Guarda passou de um saldo negativo de 820 mil euros para um saldo ligeiramente superior a três milhões, tendo os resultados, em termos de variação homóloga, melhorado em 1.400 por cento.” Já cala muita gente 🙂
 
Carlos Pacheco CarlosbPacheco1965@gmail.com
Comentário:
Senhora Sílvia Macedo: Sempre que Ana Manso ocupou posições de relevo na direção de hospitais ocorreram “situações anómalas”, “má gestão”, “clara consciência da ilicitude das sua conduta”, “atitude negligente”, “má compreensão dos seus deveres profissionais”, “obtenção de benefícios económicos”, “violação dos deveres de isenção, zelo e lealdade” e “conduta lesiva dos interesses patrimoniais que lhe cumpria administrar”. Também devia calar muita gente. Quer pela gravidade do que é dito, quer porque nesse caso e segundo se percebe, serão afirmações proferidas por entidades insuspeitas – Inspecção e Tribunal de Contas. Já no caso daquilo que a Sílvia Macedo cita, trata-se de uma mera nota de imprensa feita por Ana Manso em causa própria e distribuída às redacções por um jornalista que, por acaso, até está em situação ilegal na ULS. Consegue ver a diferença? É apenas uma “pequenina” diferença, que se chama de CREDIBILIDADE!
 
Antonio Portugal antonioportugal10@gmail.com
Comentário:
Senhora enf. Silvia, depois do seu comentário não tenho dúvidas de uma coisa: ou entrou recentemente para a instituição, valendo-se do seu cartão laranja e dos seus familiares, ou então está na lista de espera. Não tenho a mínima dúvida…
 

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