Arquivo

A necrose seca

Bilhete Postal

A necrose seca é uma forma do corpo definir uma zona doente, isolá-la e depois com simplicidade destacar o podre. Trata-se de uma zona que fica doente e que não tem irrigação, por exemplo um dedo. O dedo isquémico cria na sua base uma inflamação (a guerra entre o bem e o mal) e depois uma fronteira para lá da qual está a podridão e para cá o são. Um dedo preto numa mão quase normal é a necrose seca, dedo seco, como uma uva passa.

O fascínio da natureza está nestas capacidades de amputar o que não presta, compartimentar a doença. Recentemente, descobriu-se que um conjunto de recetores de membrana celular, a família de recetores de tyrosina kinase Eph, permitem fazer a leitura do contacto das células. E isto tem uma importância primordial, pois sabemos que o cancro é uma célula que não respeita fronteiras, que trepa sobre outras células. Ora alterações no Eph3 e Eph 4 restauram a inibição de contacto (a característica de não haver sobreposições nas membranas celulares normais) impedindo o cancro ou o seu crescimento.

Esta família também pode definir a fronteira do recusável e do aceitável? A necrose seca é a morte na fronteira do que está bom. E a que propósito me aventuro nesta linguagem? Este é o destino de Pedro Passos Coelho e Paulo Portas nos próximos quatro anos. Produzir muita inibição de contacto e proceder a definições de necrose seca. O BPN, a Refer, a CP a TAP, as entidades reguladoras, as ARS, os governos civis e tantas coisas que podem estar a mais e atingiram a incapacidade de se nutrirem. É um momento Nacional hercúleo, mas uma estratégia que alguns micro biologistas podem ajudar a perceber.

Por: Diogo Cabrita

Sobre o autor

Leave a Reply