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A moral de Morel

observatório de ornitorrincos

Caros estudantes do ensino secundário, este texto é para vocês. Por isso, parem de fazer piercings e tatuagens durante dez minutos e leiam o que tenho para vos dizer, já que vos vou falar dos assuntos mais importantes das vossas vidas, além de escovar os dentes e fazer amigos no Hi5. Falo das aulas e dos exames.

As aulas são momentos muito importantes da aprendizagem para a vida adulta e, alguns casos, para o futuro profissional. Por exemplo, é nessa altura que se aprende a fingir que estamos a ouvir alguém com atenção quando na realidade estamos a pensar na melhor maneira de pregar uma partida ao Zé Dois Palmos ou nas melhores palavras para convidar a Tina Bolas de Berlim para sair sexta à noite (ou vice-versa, no caso das leitoras). Esta técnica servirá anos mais tarde não só para prelecções no escritório, mas também para sermões conjugais. Mas atenção, não fica por aqui. Estar com atenção aos professores e àquilo que dizem é importante. Se estiverem realmente concentrados, podem conseguir fazer uma óptima imitação do professor na festa da escola, o que vos granjeará uma popularidade só comparável à da Miss Carnaval do 12º F.

Neste momento, alguns de vocês, mais betinhos e copinhos de leite, devem estar a perguntar: “Então mas não é importante ouvir aquilo que o professor está a dizer?” Primeiro, quero pedir-vos que falem mais baixo, isto aqui não é nenhuma manifestação contra a ministra. Segundo, ouvir os professores pode dar jeito, sim, mas só se for vossa intenção levantarem-se todos os sábados de manhã para comprar o Expresso e mandar guardar o Jornal de Letras de quinze em quinze dias. Fora isso, a Wikipedia chega muito bem.

Sei que andam agora enfadados com as aulas de substituição, porque dizem que são tempos em não acontece nada. Não vos entendo. Para conseguir essa verdadeira conquista da humanidade (pronto, não exageremos, da adolescência) – aulas sem fazer nada – muito sangue foi derramado por antigos companheiros da vossa luta, que conseguiam, após verdadeiros sacrifícios de pancadaria, adiar uma aula de Português ou um laboratório de Físico-Química. E as aulas de substituição podem ser muito úteis se o/a vosso/a namorado/a pertencer a uma outra turma. Reparem, em vez de ele/a passar essa hora com aquela/e boazona/matulão da turma dele/a, são obrigados a ficar na sala a limar unhas ou a fazer palavras cruzadas. Se isto não é o Ministério a zelar pela monogamia juvenil, não sei o que seja. Outra coisa que me entristece nas vossas demonstrações de protesto é fazerem-nas da mesma forma que a polícia e a malta da tropa. Sim, nos cartazes vocês dão menos erros ortográficos do que eles, mas mesmo assim acho que deviam marcar uma diferença com os fardados. Podiam começar até por cumprir a lei. Era giro, diferente e radical.

Sei que muitos estão preocupados com os exames, porque querem ir para a universidade. Acho uma aspiração legítima, mas devo advertir-vos que nem todas as vossas expectativas serão alcançadas. Por muito que as universidades europeias se pretendam igualar às americanas, as orgias sexuais em festas estudantis que vocês costumam ver na internet não estão ainda integradas no protocolo de Bolonha.

Mas nem tudo é mau. A universidade é um óptimo sítio para conhecer pessoas e, com alguma sorte, veteranos. Mas não sejam alarves. Nem toda a gente se deixa impressionar por tipos que arrotam as quatro primeiras letras do alfabeto. Ou conseguem fazê-lo com todas as letras do abcedário ou o melhor é esquecer os marrões. Deixem-me dar-vos umas dicas para os exames. Nas perguntas de resposta múltipla, eliminem todas as respostas que contenham alguns indícios de estarem erradas, como por exemplo, a frase ter palavrões; a expressão for seguida de um comentário sarcástico (“Oh sim, claro, isso faz mesmo muito sentido…”); ou a resposta contenha a expressão “de acordo com um porta-voz do governo”.

Por: Nuno Amaral Jerónimo

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