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A miserável gestão dos recursos humanos

Nestas últimas semanas foram criados dois movimentos de recém-especialistas com o objetivo de sensibilizar o Ministério da Saúde para o atraso, de quase um ano, na abertura dos concursos para a sua colocação. Um movimento de jovens médicos de família e outros de jovens médicos especialistas hospitalares.

O movimento de recém-especialistas de Medicina Geral e Familiar, acompanhado da Secção Regional do Centro da Ordem dos Médicos, entregou, recentemente, na sede da Administração Regional de Saúde do Centro uma carta endereçada ao Ministério da Saúde. Agora será a vez dos recém-especialistas hospitalares, num movimento nacional iniciado na Secção Regional do Centro da Ordem dos Médicos. Porquê estas cartas? Tudo porque continua o impasse para os 710 médicos da área hospitalar e 15 médicos de saúde pública que aguardam por uma colocação em hospitais em cujos serviços se assiste a graves carências de recursos humanos.

É o caso da Unidade Local de Saúde da Guarda, para a qual se reclamam medidas efetivas para minorar a escassez de médicos. Todos os serviços hospitalares têm carências, mas há especialidades onde as dificuldades são mais sentidas: faltam ortopedistas, cardiologistas, anestesiologistas e muitos outros. Em suma, nenhuma área do hospital poderá afirmar não estar a passar por enormes dificuldades.

Esta realidade é incompreensível e insustentável, especialmente numa zona do país com uma enorme dispersão territorial e que enfrenta um dos maiores índices de envelhecimento. Ora, o atraso na colocação de médicos é injustificável quando estão em causa os cuidados de saúde e a equidade no acesso ao Serviço Nacional de Saúde (SNS). Sem recursos humanos não pode haver uma Saúde de qualidade.

Em Portugal, ainda existem perto de 800 mil utentes sem médico de família atribuído, não podendo, assim, ser devidamente acompanhados e apoiados nos seus problemas de saúde e na prevenção das doenças. Na região Centro são mais de 200 mil utentes que não são incluídos num ficheiro de um médico de família. Nesta situação, 14 médicos na região Centro estão a aguardar há seis meses para poderem ser colocados em centros de saúde e que, assim, poderiam atender perto de 26 mil utentes. Finalmente, na semana passada, o ministro da Saúde assinou o despacho de abertura do concurso para os médicos de família.

Pretender misturar, à já conhecida falta de médicos, uma boa dose de desorganização do Ministério da Saúde em matéria de recursos humanos é a fórmula desastrosa para resolver os problemas da Saúde. É absolutamente inaceitável o que está a acontecer aos 710 recém-especialistas (234 são da região Centro), de todas as especialidades médicas da área hospitalar, que foram formados durante o ano de 2017, aos 15 médicos de saúde pública. Esta espera, inconcebível para os médicos em resultado da desorganização do Ministério da Saúde, torna-se ainda mais exasperante para quem continua à espera do (seu) médico.

Por: Carlos Cortes

* Presidente da Secção Regional do Centro da Ordem dos Médicos

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