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A Minha Parte de Serviço Público

O José ouviu falar de um almoço grátis no Hotel da cidade. Foi, como muitos outros. Em cada mesa havia um vendedor de uma empresa de Lisboa que ia convincentemente falando dos magníficos benefícios de um cartão de desconto. Valia pelo menos cinco mil euros, tantos eram os descontos em milhares de empresas por todo o país. Em viagens, então, os descontos podiam ir aos setenta por cento. Quando deu por ela, o José estava agarrado a um contrato de quinze anos, com anuidades exorbitantes, e a um cartão que não chegou sequer a utilizar. Esse cartão, como descobriu depois em Tribunal, custava cinco mil euros.

O Manuel gostava de passear. Disseram-lhe que uma empresa oferecia uma excursão grátis ao Porto, com almoço, e ele foi. Durante a viagem descobriu que esta empresa vendia colchões. Caríssimos. A vendedora que ia sentada ao lado dele foi tão convincente que ele acabou por encomendar um e assinar o contrato de compra e venda e financiamento, e como ele muitos outros nessa viagem. Chegado a casa, quando fez as contas às prestações que iria pagar deitou as mãos à cabeça e, no dia em que o colchão chegou, nem conseguiu dormir, de tão duro que era. Passados uns dias, demasiados, tentou anular o negócio mas era tarde de mais. As prestações continuam a cair e o colchão continua duro.

O João passeava por Albufeira quando alguém lhe propôs uma raspadinha. O João raspou e ganhou um fim-de-semana no Algarve logo à primeira! Só havia um senão: tinha de levantar o prémio num hotel, situado a umas centenas de metros. Aí chegado ficou logo surpreendido com a quantidade de gente que tinha ganho o mesmo prémio que ele. Sentaram-no a uma mesa com uma vendedora que ao fim de duas horas lá o convenceu a comprar uma semana de férias em “time sharing”. Quando o João foi finalmente ver o sítio, já depois de assinar os papéis (onde tinha desistido do prazo de arrependimento), decidiu que não gostava e achou que tinha sido enganado. Está a pagar prestações todos os meses e, descobriu-o agora, tem também de pagar uma anuidade para “despesas administrativas e de manutenção”. Nunca chegou a utilizar o fim-de-semana ganho na raspadinha, até porque lhe disseram que teria de pagar cinquenta euros por dia para “despesas administrativas”.

O Luís, pequeno empresário, foi um dia visitado por um vendedor que lhe propôs inserir o nome dele no maior anuário comercial do país. Por uma pequena quantia iria ver a sua actividade divulgada junto de milhões de pessoas, através desse anuário e da Internet. O custo? Irrisório, perante o previsível aumento exponencial da sua clientela, tivesse ele capacidade para lhe dar resposta. E que ficasse a saber que não era qualquer um que aí era divulgado. Pouco mais de um ano depois, e sem ter sequer angariado um cliente com tanta publicidade, o Luís descobriu que o contrato se tinha renovado automaticamente e que devia mais seiscentos euros por mais um ano daquele “serviço”.

O Pedro tem uma navalha. Ataca utentes de caixas multibanco e tirar-lhes o dinheiro. Uma vez picou um que não queria pagar, mas nunca obrigou ninguém a assinar um contrato.

Por: António Ferreira

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