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A minha ditadura é melhor q’a tua

Abomino toda a atenção mediática dada à morte de um ditador como Fidel Castro. A romantização de um combatente como Fidel é absurda. Seguir-se-ão as t-shirts e os bonés com “Patria o muerte! – Fidel vive en nosotros”. A história far-lhe-á a “folha” retratando-o como um tipo egocêntrico e obstinado que em nome de um ideal há muito obsoleto e impraticável sujeitou todo um povo à miséria, à exclusão e à estagnação temporal. Visitar Cuba é recuar 50 anos. É ver pessoas, edifícios e automóveis à espera de salvação. Por isso tantos arriscaram a travessia para os EUA em balsas improvisadas. Mas se Fidel e Cuba eram tão bons, porque fugiam os cubanos? Apesar do exemplar sistema de saúde e de educação (ou doutrinação) as pessoas, ainda assim, insistiam em abandonar o paraíso. Ingratos!

Em Portugal vemos como o PCP, e também a esquerda das lantejoulas, continuam a alinhar com os ignóbeis. Endeusam Fidel, defendem o regime norte-coreano e o escroque do Kim “poupas” Jong-un e até anseiam pela riqueza do Putin, sim, porque na doutrina comuna somos todos iguais, mas o busílis é que os do “politburo” acabam sempre sendo mais iguais do que os do proletariado. Esse está sempre lixado, nuns regimes mais do que noutros.

Não há uma ditadura ou ditador que sejam bons, ponto final. Não adianta florear nem branquear. Fidel atrofiou e destruiu Cuba por teimosia. Foi inflexível ao embargo (injusto) americano. Nunca quis negociar com os capitalistas e sujeitou o seu país à miséria, mesmo contando com o apoio “desinteressado” da URSS. Kim Jong-un acha que é deus e mata “dissidentes” e condena toda a família do desgraçado. Putin envenena jornalistas, ex-espiões, advogados, empresários, enfim, tudo o que se lhe oponha e não lhe dê o dízimo e é já um dos comunistas mais ricos do mundo, a par do Zé Eduardo e outros escroques vindos da área sinistra.

Folgo por viver numa democracia, o menos mau dos sistemas políticos. Em qualquer revolução haverá sempre piões que levam com as balas e que lutam por um regime melhor. Muitos comunistas resistiram e outros morreram às mãos da PIDE e merecem-nos o máximo respeito e admiração. O que eles não sabiam nem desconfiavam é que, se os seus chefes alguma vez tivessem chegado ao poder, toda a sua luta teria sido em vão porque, muito provavelmente, passariam de uma ditadura de direita, a má, para uma ditadura de esquerda, a péssima.

Haverá sempre tendência em todos os regimes para o açambarcamento, a corrupção e o abuso de poder, mas pelo menos numa democracia haverá sempre o escrutínio, pelo povo e pelos tribunais, dos prevaricadores, isto num país onde funcione a justiça, que não é o nosso caso. Aqui, só funciona para os “piquenos”. Os grandes tarde ou nunca malham com os ossos na cadeia. Mas como disse, a democracia é o menos mau dos sistemas.

Mais uma vez lamento a falta de nojo dos “media” na cobertura dada à morte “del comandante”. De facto, muito do jornalismo que por aí grassa é como alguns carrinhos de supermercado, insistem em guinar à esquerda por muito que insistamos em empurrá-los para a frente.

Lembram-se do “bruá” de indignação quando, em 2007, Salazar foi eleito como o “melhor português de sempre” num programa da RTP? Que escândalo, que provocação, principalmente porque outro obstinado, Cunhal, ficou em segundo. Se tivesse sido ao contrário não faltariam loas ao grande Cunhal. O bem teria vencido o mal e a Terra não teria começado a girar ao contrário no mundo português.

A minha ditadura é melhor q’a tua. Está bem abelhas!

Por: José Carlos Lopes

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