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A memória viva de um golo com 50 anos

Fernando Pires foi um dos “heróis” da equipa do Sporting da Covilhã que disputou a final da Taça de Portugal em 1957

«Parece que foi ontem». Volvidos 50 anos, Fernando Pires ainda não esqueceu a única participação do Sporting da Covilhã numa final da Taça de Portugal. Para comemorar um dos pontos mais altos da sua história, o clube serrano agendou um conjunto de iniciativas para sábado, dia que se assinala precisamente meio século sobre esta histórica partida dos “leões da serra”.

Foi a 2 de Junho de 1957 que Fernando Pires deu alguma esperança ao Covilhã, quando reduziu para 2-1 a vantagem do Benfica, num golo que permanece bem presente na sua memória, apesar dos 50 anos de distância: «O Manteigueiro recebeu a bola com a coxa e centrou para a grande área onde eu, sem a deixar cair no chão, chutei de primeira com o pé direito e fiz um grande golo – com um bocadinho de sorte também – daqueles que aparecem de vez em quando», recorda. Mas logo a seguir já não foi tão feliz, quando «sozinho» frente ao guarda-redes benfiquista não conseguiu fazer o empate que poderia ter dado outro rumo ao jogo. No final, o clube da Luz saiu vencedor por 3-1. No entanto, este “jovem” de 74 anos reconhece que, apesar do Covilhã ter naquela altura uma «belíssima equipa», era «muito difícil» ganhar ao Benfica. De resto, destaca que aquela final foi um marco histórico na sua carreira e na do clube, recordando que, antigamente, as eliminatórias disputavam-se a duas mãos e que os serranos eliminaram equipas como o Futebol Clube do Porto, Vitória de Setúbal, União de Montemor e Lusitano de Évora, este um dos “ossos mais difíceis de roer”.

De facto, depois de terem perdido por 4-0 no Alentejo, os covilhanenses conseguiram vencer o jogo da segunda mão por 7-2, «isto com um golo marcado a três minutos do fim e quando perdíamos por 2-1 ao intervalo», lembra Fernando Pires, que chegou como avançado e acabou por jogar em todas as posições, «menos a guarda-redes e a defesa central». Confessando sentir um «grande orgulho» e «bastantes saudades» de um feito até agora inédito no clube, este lisboeta, que casou com uma covilhanense e acabou por ficar na “cidade-neve”, após vários anos em Inglaterra e na capital, jogou nos juniores do Benfica antes de ingressar nos “leões da serra” por troca com o famoso Domiciano Cavém, que viria a sagrar-se bicampeão europeu pelo Benfica. O mais curioso é que depois dos juniores, de uma época como sénior nas reservas dos encarnados e de ter sido emprestado aos Leões de Santarém, onde marcou «muitos golos», Fernando Pires recusou regressar ao clube da Luz por «várias razões». É que apesar do mítico treinador Otto Glória não o querer dispensar, o avançado, na altura com 21 anos, queria continuar a jogar no Ribatejo, mas os dirigentes assim não quiseram.

Acabou então por vir para a Covilhã, onde recebeu «30 contos de “luvas” e dois contos por mês de ordenado», isto é, mais do dobro do que recebia no Benfica – 800 escudos mensais – e por cá ficou até aos 30 anos. Contudo, apesar de afirmar que passou «bons tempos» no Sporting serrano e que nunca se arrependeu da decisão, o antigo jogador revela que «se fosse hoje, se calhar não tinha saído do Benfica porque tinha sido campeão europeu». Outro dos sobreviventes da equipa que jogou a final, que reside na Covilhã, é Jorge Nicolau, que completou o onze histórico formado ainda por José Rita dos Mártires, Hélder Toledo, Fernando Cabrita, Amílcar Cavém, António Lourenço, Manteigueiro, Pedro Martin, Vitoriano Suarez e Carlos Ferreira.

Livro evoca presença na final

Sábado é também o dia em que se comemora o 84º aniversário do Sporting da Covilhã, que preparou várias iniciativas para assinalar as duas datas. Às 11 horas será celebrada uma missa solene na Igreja de S. Tiago, seguindo-se uma romagem ao cemitério e descerramento de uma lápide em memória dos sócios falecidos. Às 15 horas é apresentado o livro “Sporting Clube da Covilhã na Taça de Portugal – Cinquentenário da sua participação na Final”, no Salão Nobre da Câmara, a que se seguirá a inauguração de uma exposição histórico-documental sobre o clube. Já na quarta-feira terá lugar um jantar comemorativo do 84º aniversário, no Hotel Turismo, durante o qual serão homenageados os quatro atletas ainda vivos da equipa finalista da Taça. Por seu turno, os sócios com 50 e 25 anos de associados receberão os respectivos emblemas de ouro e prata.

Ricardo Cordeiro

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