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«A melhoria de instalações é um anseio antigo dos funcionários e dos utentes da Delegação Regional da Guarda do SEF»

Cara a Cara – Acácio Patrício Pereira

P – Como encara a sua nomeação para delegado do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) da Guarda?

R – Encaro-o com naturalidade. É um desafio e, por isso, é motivador dos pontos de vista pessoal e profissional. Quem me conhece sabe bem que tudo farei para estar à altura da responsabilidade que me foi confiada.

P – Vai continuar a presidir ao Sindicato da Carreira de Investigação e Fiscalização do SEF, ou isso é incompatível com estas novas funções?

R – Este cargo para o qual fui designado é um cargo de chefia, mas não é em nada incompatível com a presidência do sindicato, quer do ponto de vista legal, quer do ponto de vista estatutário. Aliás, esta não é uma situação que não tenha já ocorrido, quer no sindicato dos inspetores do SEF, quer noutros sindicatos. O sindicalismo é essencial em democracia e presta um serviço relevante à sociedade. Sem esse serviço haveria uma restrição de direitos dos cidadãos e a democracia ficaria amputada.

P – Quais são os seus projetos para estes três anos?

R – Como fazem parte de um serviço de âmbito nacional, os projetos de uma Delegação Regional obedecem sempre a uma planificação global. Porém, do ponto de vista pessoal, existe também a ambição de fazer mais e melhor, tanto mais que lidero uma equipa de excelência, a qual, estou certo, contribuirá para a projeção do papel do SEF no distrito da Guarda.

P – Quais são as principais carências deste serviço na região?

R – Era bom dizer que não existem carências, mas esse tema ficará melhor entregue ao presidente do Sindicato, que não é quem agora está a ser entrevistado… Enquanto Delegado Regional, prefiro destacar os desafios nesta região para um serviço como o SEF. Desde logo, pela posição estratégica da Guarda e pela extensa área de atuação que o SEF tem nesta região, que vai acima do Douro e desce até ao sopé da Serra da Estrela. Esta região, apesar da sua interioridade, é, ao mesmo tempo, um ponto vital na ligação à Europa e um cruzamento de importantes vias nacionais. É por isso que o SEF tem de estar sempre atento e atuante.

P – “Guardar” a principal porta de entrada no país por via terrestre é a missão central do SEF no distrito da Guarda. Com que resultados?

R – Com o fim das fronteiras internas entre os estados membros do Espaço Schengen poderia pensar-se que esta missão teria visto a sua importância diminuir, mas a verdade é precisamente o inverso! O papel do SEF na região da Guarda encontra-se distribuído entre várias missões de especial importância, quer ao nível da fiscalização da permanência de cidadãos estrangeiros, ou na investigação de práticas criminais relacionadas com a nossa área de atuação. Para além disso garantimos serviços essenciais à população, tal como a emissão do Passaporte Eletrónico Português.

P – A crise teve algum reflexo na imigração ilegal ou “aguçou” os métodos? O SEF tem os meios – humanos e técnicos – suficientes para responder a essa evolução?

R – Na área do distrito da Guarda, sobre qual nos debruçamos aqui, poder-se-ia falar numa redução do número de estrangeiros residentes legais devido ao abrandamento da atividade económica nestes tempos de crise. Mas a especialização das redes criminosas transnacionais, ou o recrudescimento do terrorismo global, obrigam a um papel ainda mais proactivo por parte do SEF. A imigração ilegal é ainda um problema na Europa, obrigando a mais especialização e a novas abordagens. Os meios são os possíveis… Nem sempre são os desejáveis.

P – Ao longo da sua carreira deve ter sido confrontado com situações inesperadas? Qual foi aquela que mais o marcou?

R – Marcaram-me variadíssimas situações, das mais tensas às de índole humanitária. Mas também as houve cómicas, embaraçosas e até políticas. Há, no entanto, uma que me marcou de forma indelével. Certo dia, a fadista Amália Rodrigues abeirou-se da posição de controlo de fronteira onde me encontrava e, com o seu a vontade, disse: “Meu filho, não tenho identificação, como fazemos para eu passar?” Respondi: “É fácil. A senhora canta um fado e eu já vejo se a identifico”. Replicou ela então: “Qual queres que eu te cante, meu filho?”. Incrédulo, respondi-lhe, e o certo é que, em plena sala de desembarque apinhada de passageiros, puxou pela voz e, à capela, cantou um fado.

P – Acha que a Delegação Regional está bem instalada na Guarda? Tem-se falado numa possível mudança para o antigo Governo Civil. É uma possibilidade que lhe agrada?

R – Como é do conhecimento de todos, a melhoria de instalações é um anseio antigo dos funcionários e dos utentes desta Delegação. Parece óbvio que o SEF da Guarda ocupa instalações que não oferecem as melhores condições e, quando se paga uma renda, deve haver uma correspondência entre o custo e aquilo que se frui. Desta forma, é óbvio que o antigo Governo Civil é excelente, quer pela sua centralidade, quer pelo facto de historicamente estar associado a serviços prestados à população, neste caso a emissão de passaportes. Mas, como todos sabemos, neste momento o edifício está ocupado. E, por enquanto, é isso que pesa.

Perfil:

Delegado Regional da Guarda do SEF

Idade: 48

Naturalidade: Vila Mendo, Vila Fernando – Guarda,

Currículo: Inspetor-adjunto principal do SEF

Livro preferido: “O Erro de Descartes”, de António Damásio

Filme preferido: “Danças com Lobos”, de Kevin Kostner

Hobbies: Imprensa e uma tertúlia entre amigos

Acácio Patrício Pereira

Sobre o autor

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