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«A melhor estratégia é continuar a lutar»

Comerciantes da região falaram ao Jornal das Empresas sobre as estratégias a adotar face à crise e as dificuldades que se adivinham para 2013

O atual contexto de crise afeta particularmente o comércio local, que se vê a braços com quebras significativas no volume de vendas. Tal facto obriga muitas vezes as empresas a delinearem estratégias para, de algum modo, contornarem os efeitos da baixa de mercado.

Entre os comerciantes da região, o plano que mais se ouve é «continuar a lutar». É esta a receita de José Estanqueiro, responsável da empresa medense Horto Progresso, que comercializa árvores e plantas para jardim. «Temos de fazer uso de todas as nossas forças e aguentar estes tempos difíceis da melhor forma possível, para minorar essas dificuldades», afirma este comerciante. José Estanqueiro salienta que a crise «afeta toda a gente, desde a classe trabalhadora à patronal», e que «muitas vezes basta haver um cliente que não pague para que a balança fique logo desequilibrada de forma desfavorável». O empresário aponta também outra estratégia, que passa por «agarrar outras oportunidades de trabalho, mesmo sendo noutra área de negócio». Ainda assim, a Horto Progresso, que conta atualmente com quatro funcionários, passará a ter apenas três, não só como «medida de redução de custos» mas também porque «não há trabalho suficiente para todos», revela o responsável. José Estanqueiro antevê um 2013 «muito complicado», até porque não tem até ao momento previsões de trabalho para o próximo ano, «ao contrário do que sucedia nos anos anteriores, em que nos últimos meses já havia planos para a primeira fase do ano seguinte». As razões devem-se ao facto desta empresa comercializar bens de luxo, «que em tempos de crise ficam para segundo plano», e também devido a «não haver muitas obras de raiz». «Tenho alguns trabalhos até ao final do ano, depois disso vamos ver como corre», conclui este comerciante.

Também na Mêda, o proprietário da Casa Andrade fala sobretudo em «aguentar» e «continuar a trabalhar da melhor forma possível». José Maria Andrade recorda que «há meia dúzia de anos tínhamos uma vida próspera e boas perspetivas de futuro, com crescimentos anuais significativos», mas que «tudo se desmoronou de um momento para o outro», e confessa que, para além do trabalho, não tem planos para avançar com «projetos que imprimissem uma nova dinâmica». «Há uns anos, quando o clima era próspero, investimos muito dinheiro neste estabelecimento para expandirmos o negócio», conta este comerciante, lamentando que se tenha chegado a uma altura em que «temos de ir aguentando, porque não há possibilidades para mais». O proprietário deste estabelecimento, que comercializa máquinas e ferramentas, objetos de uso doméstico, e que possui minimercado, nota uma «quebra muito grande» neste ano, «entre os 15 e 20 por cento», mas prevê que o próximo ano seja «muito pior».

Do mesmo modo, Jorge Castela, da empresa de gás e eletrodomésticos trancosense António Castela e Neto, defende que «a melhor estratégia é, de alguma forma, continuar a olhar para a frente e a trabalhar como temos vindo a fazer até aqui». Para este comerciante, o “segredo” para fugir à crise passa sobretudo por «tentar cativar o cliente e mantê-lo contente para que ele não fuja», acreditando que essa será a “chave” para enfrentar um ano que se afigura «difícil em todos os setores do comércio».

No setor das rochas ornamentais, a situação também é «difícil», como revela Luísa Santos, gerente da empresa Granitos Santos e Capelão, de Trancoso. «Estamos a atravessar um momento de tal forma complicado que nos vimos obrigados a reduzir pessoal, pois há cada vez menos trabalho», acrescenta a responsável desta empresa que tem atualmente cinco funcionários, menos dois que há um ano. Para além disso, «no pouco serviço que vai havendo, os empreiteiros acabam muitas vezes por declarar insolvência, deixando-nos sem material e sem dinheiro», refere esta empresária. Perante este contexto, a estratégia para contornar a crise passa por «continuar a trabalhar, pois se pararmos é pior ainda», mas também por «tentar exportar». A empresa já está presente nos mercados suíço, francês e espanhol, mas continua a vender mais para o mercado nacional. Contudo, «o que nos socorre é mesmo a parcela da produção destinada ao estrangeiro», revela Luísa Santos. A nível interno «não se nos afigura qualquer estratégia para dar a volta à situação. Temos de ir aceitando o que aparece, mas analisando sempre se o cliente vale ou não a pena», conclui a gerente.

Restauração sofre com IVA a 23 por cento

No ramo da restauração, «a crise não se sente diretamente na falta de negócio, mas de forma indireta, através do aumento do IVA», diz Jorge Fonseca, do restaurante trancosense D. Gabriel. A subida deste imposto de 13 para 23 por cento «pesa bastante» e é «uma despesa muito grande no final de cada trimestre», representando um «problema», pois «o que poderia ser o nosso lucro vai quase integralmente para o Estado», afirma este comerciante. Este restaurante, que abriu há quatro meses, tem registado um «fluxo de clientes razoável», e o proprietário aposta «sobretudo na qualidade, para que as pessoas venham e voltem», considerando que «manter os clientes satisfeitos» é um fator importante para combater a crise. Ainda assim, Jorge Fonseca antevê um ano «complicado», e que obrigará a «trabalhar o dobro para ganhar metade».

No setor hoteleiro, o Hotel Mira Serra, de Celorico da Beira, também sofre com o aumento do imposto sobre o valor acrescentado, e teve mesmo de aumentar os preços no seu restaurante «para fazer face a essa subida», revela Pedro Baptista, da direção do hotel. Em termos de taxas de ocupação, esta unidade hoteleira registou uma «quebra de 20 por cento» neste ano, devido ao facto de viver «essencialmente do mercado nacional», revela o responsável. Nesse sentido, a estratégia da direção do hotel passará pela «busca de novos mercados», com prioridade para o brasileiro. «Neste momento, o mercado deste país é o que mais está em ascensão no que diz respeito ao turismo, e temos de apostar nisso», considera Pedro Baptista.

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