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A medalha

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A 18 de junho, no Dia do Médico, recebo a medalha de 25 anos de formatura. De facto é uma medalha que significa 25 anos de mentiras e de falsidades, quer na carreira, quer na diferenciação, quer na definição de objetivos. Fiz exame de graduado em cirurgia 8 anos depois da sua abertura. Conheci anulações perversas de concursos. Vi fechar instituições e destruir património. Tudo em torno de promessas falhadas, compromissos falsos, salários sempre decrescentes, ausência de igualdade, ausência de equidade, ausência de valoração do mérito, ausência de urbanidade de muitos, de honradez em tantos. Falo de gestão, de negociações sindicais, de preferências por pessoas menores. E tudo isto acontece num mar de pessoas competentes, de gente interessada, de muitos que se dedicaram e deram horas infindas e são anónimos, não premiados, não trabalhando pela rega do pé, não precisando de incentivos além da sua vocação e do seu empenhamento… Por eles, valeu a pena! Por eles relativizo os estúpidos, os autoritários, os incompetentes, os pedaços de asno que me tentaram rasteirar o caminho. Pela sensação fantástica de ter diagnosticado e tratado muitos, de ter acompanhado alguns nas horas mais duras, de ter ajudado outros no penoso fim, de ter diminuído sofrimentos, de ter distribuído verdades… Também valeu a pena! Por não ter sido apenas médico! Por ter sido da família, dos amigos, dos projetos, dos sonhos, dos empenhamentos, valeu mesmo a pena! Mas é como a dor: “a única que sinto é a minha”, é por mim, por ter trabalhado na adversidade, por ter lutado contra ventos e marés, mostrengos e “godzilas”, por me ter empenhado muitas vezes, por ter acreditado sempre, por ter produzido sempre que me deixaram, por ter amado o que fazia, que lá irei buscar a medalha desses 25 anos ao longo dos quais nasceram os filhos, perderam-se referências e amei a vida. Apeteceu-me dizer isto alto!

Por: Diogo Cabrita

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