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A materialização de solidariedade

…para Maria Teresa Gentil-homem, que honra o seu nome…

Émile Durkheim em 1893, tinha definido solidariedade como o apoio que uma pessoa dá ao seu grupo social, e também como esse grupo apoia a pessoa que mora só. Daí é que mais tarde nasceu o texto O Suicídio. O Suicídio foi um dos pilares no campo da sociologia. Escrito e publicado em 1897, foi um estudo de caso de um suicídio, publicação única em sua época, que trouxe um exemplo de como uma monografia sociológica deveria ser escrita.

O texto foi um exemplo de pesquisa e de como a ciência da vida social, deve ser escrita sempre em monografias. Fez escola: ou todos escrevemos uma monografia ou passa a ser quase impossível saber investigar. Entre o seu texto A divisão do trabalho social, em que define solidariedade, e O Suicídio, Durkheim criou o saber da Sociologia. Devemos muito a este sábio, que soube ser solidário com o mundo inteiro

Mas não apenas, o conceito de solidariedade, quase bíblico por significar ajudar-vos os uns aos outros, passou a ser classificado em solidariedade orgânica, ou mandada pela lei, como ir à guerra pela Pátria, ou servir nas milícias por um tempo: tem valor, mas não é um valor espontâneo, é um mandato, que deve ser obedecido. A outra cara da solidariedade, é a que ele denominou mecânica ou um voluntariado para colaborar com quem não vive a vida feliz e em paz, ou servir aos outros por amor à humanidade.

Não é estranho que o Professor Durkheim, ainda que confesso socialista ateu, pensasse da forma explicitada: tinha sido formado na Escola Rabínica de Paris e o seu livro central para o seu pensamento, era o Talmude. Formação que foi a base de organizar a ciência da sociologia. Teve as suas dúvidas: entre denominar socialismo a sua maneira de trabalhar, ou ciência da vida social. Socialismo, já existia como ideia política e partido, do qual era membro. Os comentários rabínicos do Tora, foi outro texto de cabeceira que o ajudava a pensar, como mais tarde a Freud que retirou desses conceitos a teoria da psicanálise, como tenho analisado em vários livros da minha autoria, especialmente os de 2003: A economia deriva da religião, Afrontamento, Porto; bem como O Presente, essa grande mentira social. A mais-valia na reciprocidade, 2008, Afrontamento, Porto.

Porquê introduzir a minha obra dentro da de Durkheim? É simples: o socialismo durkheimiano, como o de Marx, ensinaram-me a estimar a noção e a emoção da solidariedade e reconhecer este valor em outras pessoas.

Como o caso da senhora a quem dedico este texto. Eram os meus dias de insuportável dor da doença que me mata, e ela, sem dizer nada, acompanhou as minhas aspirações a estar bem, fazendo por mim o que eu devia cumprir. Como digo na dedicatória, o seu comportamento fizeram-me sentir feliz e agradecido, porque honra o seu nome. Apareceu em Portugal nos anos 70 do século passado, tomou conta de um muito inteligente jornalista, tem tratado dele como trata a todas as pessoas: com calma, simpatia e silêncio. Sem proferir nenhuma queixa nem ficar triste pela forma de vida que leva.

Estou agradecido. Vem de Moçambique e tem feito, como eu, de Portugal uma pátria, que bem a merece e mais devia entregar à sua bondade e simpatia. Não passa um dia que não queira saber como estou, se preciso de recados ou medicinas. A sua família devia sentir-se honrada pelo seu comportamento. É teimosa, não reconhece os seus valores e dizem que a divindade a acompanha por ser da fé católica. É fiel, o que sempre se procura numa mulher, e nunca descansa, exceto quando dorme. Deve com os anjos, por ser, diz o marido, um dormir profundo e descansado.

Estou agradecido por esta solidariedade mecânica, que nasceu da comum amizade com um senhor que acompanha as minhas doenças.

Este Sábado 16 de Abril, está de aniversário. Parabéns, Maria Teresa, uma gentil mulher, ao pé de um Gentil-homem, quem lhe deu o seu nome ao casar.

Muito Obrigado, rapariga!

Por: Raúl Iturra

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