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A liberdade total era o caos

Bilhete Postal

Que responsabilidade tenho eu da incúria dos outros no meu lugar de vigilância? De que negligência me pode acusar se avisei mil vezes e mil e uma não cumpriu? O problema dos comportamentos desviantes, da falta de acato da lei, encontra uma fronteira no ponto em que outro devia fazer cumprir a regra. Isto serve para a encosta de onde cairão pedras, para a rocha escondida no mar, para o banhista que nega a bandeira vermelha, para o ciclista na estrada vedada. Há um guarda e ele avisa, discute, explica, suplica. Mas o outro não. Não porque tem o direito, não porque acha que pode. Vai. Não volta.

– Onde estava o guarda? A culpa é da falta de avisos!

Não, a culpa é do infeliz que não acatava ordens de ninguém, que não cumpria com as sugestões dos outros. Jaz debaixo das rochas. Choram por ele que não vem do mar. Este exemplo serve para toda a gente e todas as coisas onde existe uma fronteira. Onde devemos chegar e como devemos ser travados se há risco e corremos para uma morte anunciada? Porque vão crianças para o meio das claques enfurecidas? Porque há claques, ou fãs organizados? Porque impedimos a condução sob o álcool ou falando ao telemóvel? Porque não impedimos as batatas cheias de sal ou o excesso de doces na dieta das crianças? Porque impedimos o tabaco em lugares públicos? Todos esses exercícios de limitação são atos de poder e baseiam-se numa limitação do caos. Tudo se deve à noção de barreira, de parede entre células para que não tenhamos de discutir a murros e dentadas a nossa liberdade. Depois há a definição dos valores básicos que temos de impedir que sejam violados. Isto não é do mais forte. Ninguém é dono de ninguém. A orientação sexual é do domínio de cada indivíduo. O casamento não é para sempre, se um o quiser terminar. O teu sexo é livre. A lei é igual para todos. A polícia é para definir o cumprimento da lei e colocar a ordem. E se nada fosse assim era o caos e às vezes já é.

Por: Diogo Cabrita

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