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A indemnização que tarda em chegar

Viúva do soldado da BT falecido num acidente de mota garante estar a passar por «muitas dificuldades financeiras»

Passados três meses sobre o trágico acidente de mota que vitimou o seu marido, a viúva do soldado da Brigada de Transito (BT) da Guarda Nacional Republicana (GNR) da Guarda queixa-se de ainda não ter recebido a indemnização a que diz ter direito e estar, por isso, a passar por «muitas dificuldades» de ordem financeira. Com dois filhos menores para criar, Maria Assunção Pires, de 48 anos, que vivia do ordenado do marido, vê o futuro com «muita preocupação» caso o dinheiro não chegue nos tempos mais próximos.

Recorde-se que José João Cunha faleceu no dia 20 de Março, vítima dos ferimentos provocados pelo despiste, alegadamente causado por «problemas mecânicos» do motociclo que conduzia no IP5, quando se encontrava ao serviço da BT, garante a viúva. Maria Assunção Pires, que «sempre» foi doméstica, adianta que a situação financeira da sua família está «má», havendo mesmo necessidade de ter «que andar a poupar para conseguir sobreviver e dar uma vida digna» aos seus filhos menores, um de 13 e outro de 8 anos de idade. O que vai valendo, por enquanto, é algum dinheiro que o casal tinha amealhado: «Lá vou orientando o dinheiro que ainda tinha da melhor forma para mim e para os filhos, mas se esta situação se arrastar fico sem nada», refere, temendo que possa ter «algum problema» na sua cabeça, atendendo a que tem andado «muito nervosa» e à muita pressão que tem sofrido nos últimos meses. Depois do fatídico acidente, Maria Pires ainda recebeu o ordenado do mês de Março, bem como o dinheiro atrasado das férias. Contudo, a partir daí «não me deram mais nenhum dinheiro e prometeram que me davam os seis meses de ordenado, mas ainda não vi nada e nunca mais me disseram mais nada», lamenta. «Estou toda a vida à espera? E não se resolve nada? Também prometeram logo que me davam ajuda para ir ao médico, mas se eu quis lá ir tive que pagar do meu bolso 60 euros de consulta», reforça.

Maria Pires garante que já tem um advogado a tratar do assunto porque quer receber a indemnização, tal como os seis meses de ordenado e a pensão de morte a que diz ter direito, garante. A viúva lamenta ainda o comportamento que alguns agentes da GNR da Guarda, entre os quais se encontra um alferes, do qual não se recorda o nome, terão tido na ocasião, «como que a querer inventar desculpas para o acidente», recorda: «Uns diziam que o meu marido se matou porque quis, outros que foi um desmaio, outros que tinha sido uma picadela de mosca…», diz, bastante amargurada com toda esta situação. O relatório de autópsia elaborado pelo Gabinete Médico Legal da Guarda, a que “O Interior” teve acesso, afirma que «do acidente de viação resultaram lesões traumáticas ósseas e viscerais graves, nomeadamente do crânio, da parede torácica com múltiplas contusões pulmonares e hemotorax bilateral, bem como traumatismo abdominal, das quais resultaram lacerações do fígado e baço. Estas lesões são de tal gravidade que, só por si, terão provocado a morte do sinistrado em causa». Também a hipótese de estar a conduzir sob o efeito do álcool terá sido levantada, mas o mesmo relatório mostra que a taxa de alcoolemia do agente era de zero.

Maria Assunção Pires ainda recorda a «constante angustia» que sentia cada vez que sabia que o marido, que prestava serviço há 22 anos, ia andar de motociclo, porque os soldados comentavam frequentemente que «as motas não estavam em condições, que estavam todas estragadas e que mudavam as peças de umas para as outras», lembra. «Mesmo ele, ultimamente, dizia-me muitas vezes que até tinha medo, porque as motas não estavam em condições», recorda. De resto, outros «três colegas tinham sofrido acidentes» com a mesma mota que terá provocado a morte do seu marido. “O Interior” tentou obter alguns esclarecimentos junto do Comando Geral da GNR, em Lisboa, mas até ao fecho desta edição tal não foi possível.

Ricardo Cordeiro

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