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«A incontinência urinária afeta cada vez mais mulheres jovens»

Cara a Cara – Entrevista: Humberto Gonçalves

P – Em que consiste o tratamento inovador da incontinência urinária feminina desenvolvido pelo Centro Hospitalar da Cova da Beira?

R – Antigamente, a intervenção para a incontinência urinária demorava cerca de duas horas e implicava uma cirurgia abdominal aberta, com um tempo de recuperação e internamento de 10 dias e a recuperação pós-internamento de dois ou três meses. Atualmente, a intervenção faz-se por via vaginal com a utilização de uma prótese que é extremamente pequena e em que fazemos uma incisão de um centímetro na vagina. Por isso é que é uma intervenção extremamente curta, adquirindo treino. É uma técnica que permite resolver com eficácia as situações mais frequentes de incontinência urinária de esforço.

P – A incontinência urinária é um problema que afeta cada vez mais mulheres?

R – Sim. Afeta cada vez mais gente e é quase um problema de saúde pública. É um problema que afeta cada vez mais mulheres e mais jovens também. Cerca de 25 por cento das senhoras acima dos 45 anos terão algum grau de incontinência urinária de esforço, o que é uma percentagem bastante significativa.

P – Na sua opinião por que é que o problema está a ganhar maior dimensão?

R – Está muito relacionado com os hábitos de vida. Há um que se está a tentar mudar, que é o das senhoras reterem a urina durante muito tempo, e também terá a ver em parte com a forma como os partos passaram a ser feitos desde há uns anos a esta parte. Partos que acabaram por ser sempre intervencionados ou por meio de medicamentos, com partos “forçados” devido às senhoras quererem que demore menos tempo. Aparecendo drogas que permitiram isso forçou-se um bocado o mecanismo e hoje em dia vê-se a consequência disso.

P – A intervenção efetuada garante melhor qualidade de vida às pacientes?

R – Claramente. Oferece uma melhor qualidade de vida, em termos de não andarem preocupadas em perder urina e não gastarem dinheiro em pensos e fraldas. São mulheres que muitas vezes até têm medo de dar uma gargalhada ou sorrir porque perdem urina. Para uma senhora em idade ativa, com 40 ou 45 anos, que tem sempre que andar a apertar-se em público e que tem medo de ir a festas ou a convívios, é complicado e afeta muito a sua qualidade de vida.

P – O tratamento inovador resulta de uma investigação desenvolvida no CHCB ou é um método já aplicado noutros locais?

R – Nós aderimos a um método que tem sido desenvolvido no estrangeiro, nomeadamente em Lyon e em Barcelona. São os centos que estão mais desenvolvidos e vamos tendo formação e acompanhando a evolução, porque nos últimos quatro/cinco anos houve um grande incremento nesta área. Desenvolveu-se muito a investigação porque também apareceu muita “clientela”, daí aparecer uma nova especialidade que é a Uroginecologia.

P – Quantas mulheres já foram sujeitas a este tipo de intervenção?

R – Nos últimos dois anos houve um maior incremento, mas há cinco/seis anos que o serviço tem acompanhado este problema com maior incidência. Desde essa altura que temos vindo a acompanhar as técnicas protésicas até às mais modernas que existem agora e normalmente temos operado uma média de 120 mulheres por ano nos últimos cinco/seis anos. Talvez agora mais, porque vão aparecendo mais e as senhoras estão mais alerta e já sabem que há solução para o seu problema e sem grandes internamentos e alterações dos ritmos de vida. Normalmente, opero as senhoras à sexta-feira para ainda terem o sábado e o domingo para ver se o problema está resolvido e segunda-feira já podem ir trabalhar.

P – Este é um problema que não é exclusivo das mulheres?

R – Nós tratamos só mulheres, mas também há nos homens, embora com muito menos frequência. Enquanto que no homem é uma situação excecional e enquadrada noutra patologia da próstata, na mulher aparece como uma patologia-base.

Humberto Gonçalves

Comentários dos nossos leitores
Carolina Gonçalves black_carol9@hotmail.com
Comentário:
Gostei muito da entrevista, a meu ver esta muito bem conseguida, de facto o meu pai tem-se empenhado muito no campo profissional,sempre tendo como prioridade, melhorar substancialmente a qualidade de vida das mulheres! O seu objectivo tem sido conseguido com bastante sucesso, fico muito feliz por ver o seu trabalho ser reconhecido!
 

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        mais mulheres jovens»

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