Quando falamos de Património Histórico, devemos lembrarmo-nos que não são não só os monumentos, as pedras, a cultura material. Existe todo um leque de elementos patrimoniais, que, por vezes, não se distinguem, mas que fazem parte do nosso dia a dia.
Este preceito encontra-se patente na Lei de bases da política e do regime de protecção e valorização do património cultural, que prevê a protecção e classificação do património áudio-visual, fonográfico…
A toponímia é, certamente, um desses elementos, uma vez que corresponde ao enquadramento cultural, a percepção que o Homem possui do território que o rodeia. Corresponde à identificação das áreas, evidenciando a memória colectiva sobre um determinado espaço ou um acontecimento.
O seu estudo permite a compreensão dos valores e das tradições de um povo. Veja-se, por exemplo, o caso da toponímia nos Centros Históricos, principalmente aquela que recua ao período medieval. A sua análise permite-nos compreender melhor a organização socio-geográfica destes espaços, com ruas evidenciando ofícios, como a Rua dos Ferreiros. Estas referências denunciam uma necessidade de organização geográfica da população no interior dos perímetros muralhados.
A toponímia medieval, actualmente aduzida sobretudo pelas fontes históricas, permite-nos ainda conhecer alguns dos edifícios existentes, de tal forma organizadores da malha urbana, que faziam parte da toponímia. Como confirmou a investigação histórica, o seu estudo permite a identificação e localização desses imóveis, por vezes escassamente referidos nas fontes, mas que organizavam o urbanismo da cidade e o quadro mental dos seus habitantes: Hospitais, Paços Reais, albergarias.
Por outro lado, a toponímia surge como um meio de auxílio na investigação arqueológica, permitindo a identificação de sítios. A referência a castelos, como “Alto dos Castelos” poderá remeter para um povoado, ou Calçada do Rei Heródes uma calçada antiga.
Os topónimos obtêm-se pelas cartas militares, onde é possível fazer uma análise preliminar, que implica uma deslocação ao local para confirmação. Por outro lado, a micro-toponímia, muitas vezes transmitida pelas populações locais, é também um precioso auxiliar na investigação.
Para além de permitir a identificação de estações arqueológicas, a micro-toponímia permite-nos compreender a importância desses sítios para as populações, ficando na memória colectiva a identificação que fazem desse local e a existência de elementos que não compreendem. Certamente o seu estudo é uma mais valia no conhecimento da memória colectiva dos povos.
Por: Vítor Pereira