Arquivo

A história do eléctrico de Maçaínhas

Fabricado em 1931, foi oferecido à freguesia por um antigo administrador da Carris, mas encontra-se degradado

Há muito que Maçaínhas é conhecida como a “aldeia do eléctrico”. O peculiar atributo resulta da existência, no centro da localidade, de um eléctrico da Carris, ali instalado há pouco mais de 10 anos e que atrai a curiosidade de quem por ali passa. Oferecido à Junta de Freguesia em 1993, chegou à aldeia do concelho de Belmonte pelas mãos de Amândio Duarte, antigo administrador da Carris e natural da freguesia, numa altura em que a empresa se desfez de uma parte considerável da sua frota.

À Junta couberam apenas as despesas de transporte desde Lisboa, orçadas em perto de 150 contos, já que as oficinas da Carris se encarregaram do restauro, gastando para o efeito mais de 700 contos. O invulgar eléctrico, agora património de uma pequena aldeia do interior, constitui uma homenagem ao número considerável de moradores que a Carris tem vindo a empregar ao longo dos anos e tornou-se inevitavelmente num ponto de encontro, sobretudo para os muitos reformados da empresa em Maçaínhas. O primeiro projecto de utilização do eléctrico, um modelo standard 546 fabricado em 1931, visava a criação de uma biblioteca que servisse a localidade e as freguesias vizinhas, terminando com as escassas visitas da Biblioteca Itinerante da Fundação Calouste Gulbenkian. Porém, a ideia acabou por não se concretizar e, desde então, o eléctrico jaz na praça central da aldeia, cujos habitantes são identificados nos arredores como sendo «”da terra do eléctrico”», diz o presidente da Junta. E Carlos Amaro acrescenta que a existência de tal peça já surpreendeu «mais do que um visitante».

Mas apesar do veículo já se ter «enraizado na cultura e no património locais», a verdade é que o eléctrico já teve melhores dias. O autarca admite que, nos últimos anos, «não têm sido feitas quaisquer obras de manutenção», facto que poderá explicar o estado de degradação em que se encontra, mas a sua reabilitação está pensada para breve. Para além de tentar obter as tintas originais junto da Carris, será necessário providenciar uma cobertura de lona e uma nova estrutura de ferro para o tejadilho, bem como todos os arranjos interiores, que vão desde «a estofagem dos bancos ao arranjo de novos cortinados», desfia Carlos Amaro. No total, para tratar do eléctrico são necessários cinco mil euros, «um capricho demasiado caro para uma freguesia tão pequena», admite o edil, lembrando no entanto que só existe outra peça semelhante em Braga. Por outro lado, também já houve quem quisesse dar outro destino à peça. Ainda há poucos meses, chegou a Maçaínhas uma proposta do único coleccionador de eléctricos do país, o lisboeta Paulo Marques.

Mas a Junta garante que não irá desfazer-se deste ex-libris tão cedo: «Já faz parte da cultura e da tradição locais», sustente o presidente. São mais que muitas as histórias que lhe estão associadas. O próprio transporte, realizado por gentes da terra, ficou marcado por diversas peripécias. António Pires Gonçalves foi um dos que ajudou a trazer o eléctrico desde Alcântara até Maçaínhas e conta que a pequena comitiva foi «travada pela polícia» logo em Monsanto. É que faltava a licença especial para este tipo de transporte: «Mas ainda tivemos que esperar várias horas para seguir caminho, já que, segundo a lei, só poderíamos fazer-nos à estrada às duas da manhã», lembra. O que é certo é que o eléctrico acabou por chegar, está a tornar-se lendário na região e depois de recuperado, o edil de Maçaínhas promete preservá-lo e assegurar a sua manutenção, «para que nunca mais chegue a este ponto», espera.

Rosa Ramos

Sobre o autor

Leave a Reply