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«À Guarda passa-lhe tudo ao lado»

Joaquim Canotilho, candidato do CDS/PP à Câmara da Guarda

P – A Guarda também o inspira ou concorre por amor à Guarda?

R – Concorro porque estou farto de ver a Guarda a definhar e porque tenho um projecto para a cidade. Sobre o amor, nem vale a pena falar. Nasci cá, sempre fui da Guarda e não admito que os outros gostem mais do que eu. Eles podem dizer que amam a terra ou que estão inspirados, mas eu estou é preocupado…

P – O que destaca de negativo no último mandato da autarquia?

R – Muita coisa… Para mim, esta autarquia é a mesma desde o 25 de Abril, ou seja, houve uma continuidade, porque as pessoas que lá estão são as mesmas que permaneceram na Câmara depois da saída do Abílio Curto. Aliás, sempre os achei muito coniventes com ele, podem não ter culpa de nada aos olhos da lei, mas, politicamente, fazem parte da mesma embalagem. A Guarda tem vindo a perder importância, perdeu serviços e outras coisas. A cidade só tem crescido por causa do esvaziamento das aldeias, mas há horas do dia em que parece um deserto. Por isso é urgente adoptar uma política para atrair pessoas e empresas. Sem gente não há nada. É preciso apostar no investimento de empresas privadas e a Guarda tem sido muito madrasta neste campo. Há muitas empresas que se querem instalar, mas as portas são-lhes fechadas, como aconteceu, por exemplo, com o “Call Center” que a PT abriu recentemente em Castelo Branco. A iniciativa vai criar cerca de 700 empregos, que podiam ter sido gerados na Guarda se a autarquia, ainda no tempo de Maria do Carmo Borges, tivesse aceite o projecto. À Guarda passa-lhe tudo ao lado…

P – O que é que o CDS-PP pode fazer pela Guarda?

R – Podia começar pela dinamização do tecido empresarial, passava pelo saneamento financeiro da autarquia e pela aposta no trabalho requalificado. Depois criava um centro de certificação e controlo dos produtos regionais, desde o mel, aos enchidos e ao queijo. No âmbito do tão apregoado choque tecnológico, dinamizava e activava a estagnada Associação Distrital para a Sociedade da Informação. Temos também um plano de investimentos camarários, como a ligação da rotunda da Ti’Jaquina à Viceg, mas sempre preservando aquele estabelecimento. Fundamental é ainda a ligação da A25 à Catraia da Alegria ou a variante à Sequeira, bem como o parque de estacionamento no Jardim José de Lemos. Por outro lado, continuamos a defender que se crie uma nova praça, com comércio, serviços e repartições públicas, nos terrenos do antigo quartel. Já o actual mercado municipal e a central de camionagem deviam ser deitados abaixo para dar lugar a outros edifícios mais cómodos e dignos. Mais dignidade merecem igualmente as entradas da cidade, é que na Guarda são os construtores civis que decidem o rumo da cidade. No que respeita a cultura, reactivava as festas no parque municipal, redefinia o calendário cultural e trabalhava para que deixasse de ser tão elitista e tivesse uma cariz mais popular, para além de criar um programa cultural para os mais idosos. No turismo, aposto na criação de um novo parque de campismo na margem da barragem do Caldeirão para dinamizar a zona de Maçaínhas, mas também defendo ali a prática de desportos náuticos não motorizados. Finalmente, conto intensificar as relações intermunicipais para contribuir para um interior mais forte, porque isto das Câmaras serem geridas como “quintazinhas” de cada um tem que acabar. Quanto ao urbanismo e planeamento urbanístico, reabilitava o centro histórico.

P – O Polis devia ter supostamente resolvido essa questão?

R – É vergonhoso que o Polis, lançado para reabilitar o centro histórico e outros espaços, não o tenha feito. Sei que, antes de acabar a “vindima”, conseguiu mais umas verbas e vai contemplar algumas ruas do centro histórico. Só tenho muita pena que o Polis tenha apostado em coisas megalómanas e não tivesse arranjado o que cá tínhamos, pois ficou tudo na mesma.

P – O que espera da Plataforma Logística?

R – Estou com muito medo que a Plataforma Logística seja novamente uma bandeira eleitoral e que depois se acabe o dinheiro, pois garantidas só estão as verbas para a primeira fase. O que acho é que a maioria das pessoas não sabe o que é uma plataforma logística. Joaquim Valente já disse que cria ali quatro mil postos de trabalho. Ana Manso fala em 3.500 postos. Oxalá criem todos esses empregos, mas eu estou seriamente preocupado. É que não nos podemos esquecer da concorrência, cada vez mais forte, do projecto do Porto Seco de Salamanca em ligação com o porto de Aveiro.

P – O que o leva a estar tão confiante na eleição de um vereador?

R – Não estou confiante, mas com esperança de ser eleito vereador. Primeiro, porque isto está muito mal e as pessoas já estão saturadas. Depois, porque o engenheiro Valente é mais do mesmo, foi empregado e funcionário da Câmara, passando entretanto a ser empresário para a Câmara. Ou seja, teve a sua vida profissional sempre encostada à vida política. A Guarda inspira-o, mas Celorico também já o inspirou. Enquanto a doutora Ana Manso já provou que está mais preocupada com a sua vida.

P – Acusou Joaquim Valente de cometer ilegalidades enquanto foi vereador do Urbanismo, quer concretizar essas acusações?

R – Não o acusei de nada. Disse apenas que houve situações – que ainda se arrastam na Guarda – que devia ter resolvido. Toda a gente sabe que há muitos prédios com autorização para três andares que acabam em sete ou edifícios construídos em reserva ecológica, mas ninguém fiscaliza essas irregularidades. Era importante que se averiguasse se há mesmo ilegalidades para se punir quem as cometeu. Neste caso, o que aconteceu foi que um prédio do Bairro do Pinheiro ocupou quase 200 metros quadrados da via pública e comprometeu seriamente o projecto da cooperativa Casa Jovem.

P – Também defende uma auditoria às contas da Câmara da Guarda?

R – Claro, ninguém pode começar a trabalhar sem saber como está a casa. Sabendo nós que a Câmara é muito pouco transparente, sem dúvida que pedia logo uma auditoria.

P – O que acha da situação da Delphi?

R – Se a empresa sair é porque vai à procura de mão-de-obra mais barata. Querendo cativar investimentos, as autarquias podem baixar os impostos autárquicos ou oferecer outras contrapartidas, por exemplo, na Guarda não há um centro de empresas ou um centro de formalidades. E por causa da PLIE já devia haver um gabinete de apoio ao investidor, porque a Câmara tem que acompanhar e acarinhar estas pessoas. É o que acontece em Almeida, mas essa é uma Câmara séria e sem endividamento, pagando atempadamente e a preços de mercado tudo o que compra.

P – Não é isso que se passa na Câmara da Guarda?

R – A autarquia guardense está completamente endividada. Falando de números mais concretos, deve 22 milhões de euros de longo prazo e 18 milhões de curto prazo, mais isto e aquilo… Ou seja, deve quase 50 milhões de euros. Eu só conheço estes números porque os vereadores da oposição os tornaram públicos num debate, já que esta Câmara é pouco transparente. Há muitas empresas da Guarda com graves dificuldades financeiras por causa da autarquia não lhes pagar o que deve. Para além de que compra tudo a preços inflacionados.

P – Como vê a relação da cidade com o IPG?

R – Infelizmente, estão de costas voltadas. O IPG é das poucas coisas que a Guarda ainda tem e os seus estudantes dão vida à cidade. Por outro lado, acho que o Instituto tem perdido muito tempo em guerras internas, enquanto a Guarda se esqueceu do IPG. Era também muito importante colocar o Conselho Municipal de Educação a funcionar de forma a criar estágios na cidade para os recém-licenciados. Tal como se devia apostar na Escola Profissional, através de uma parceria pública ou privada, seja lá como for. O importante é que a Guarda volte a assumir-se como a capital do ensino que já foi.

P – O que pensa do TMG?

R – Acho que é um “elefante-branco”. O TMG é um edifício com uma certa dignidade, mas nunca o faria naquele local, pois está escondido. Claro que será uma obra para a posteridade, agora também sabemos que aquela empresa municipal foi criada para pagar os salários que uma câmara não pode pagar. Porque ali não se faz mais nada do que já se fazia pela cultura quando estavam na Câmara. Explora-se um café-concerto que é concorrencial com outras casas do género. Portanto, gerir aquilo não é muito difícil quando não temos ideia de pagar os salários ao final do mês. Quanto aos números, acho-os ridículos, pois não me interessa se o TMG tem uma afluência muito grande, preciso é de saber se tem um prejuízo muito grande! Isso é que me preocupa.

P – Acha que as empresas municipais criadas na Guarda têm alguma utilidade ou são apenas meras agências de emprego?

R – A maioria são meras agências de emprego. Há muita coisa em que podíamos recorrer ao “outsourcing”, mas opta-se pelas empresas municipais que tratam muito bem os funcionários, especialmente os amigos e familiares. Aliás, há uma classe política, uma espécie de “apparatchik”, que trabalha na Câmara e nessas empresas.

P – Toda a gente fala em necessidade de mudança política na Guarda. Mas as coisas não mudam? O que se passa na sua opinião?

R – Não mudou ainda porque a política transformou-se numa espécie de “derby” Sporting-Benfica. As pessoas são do Benfica porque nasceram vermelhos, ou nasceram “verdes” e gostam do Sporting. O mesmo se passa com as pessoas do PS e do PSD. Podem estar aborrecidas com o partido, mas há hora da verdade votam nele. Seria bom que os castigassem às vezes.

P – Como estão a correr os preparativos da campanha?

R – Já andei a colocar e a colar cartazes… E mesmo com uma campanha limitada, como a minha, gasta-se muito dinheiro, que sai dos nossos bolsos. Sei que são precisos os “outdoors”, mas é tudo muito caro. Os meus cartazes são pequenos e custaram 30 euros cada, já os parafusos roubei-os (risos). Mas fico ofendido quando olho para outros cartazes, cada um maior do que o outro, para além das coisas que leio. “Honestidade”, com a fotografia de Ana Manso! Mais valia nem utilizar aquele adjectivo. Seria mais importante que dissesse o que vai fazer se perder. Por sua vez, Joaquim Valente só quer aparecer, por isso é que os seus “outdoors” são maiores que os da sua adversária.

P – Como será a Guarda daqui a quatro anos?

R – Depende de quem ganhar as eleições. Se for eleito, garanto que vai estar muito melhor, pelo menos vai ter uma Câmara transparente. E quando há transparência tudo funciona bem. Se conseguir ser o fiel da balança, garanto que a Câmara mudará muito.

P – Há quem diga que o CDS/PP não fez mais listas candidatas às Juntas de Freguesia para dar espaço à candidatura do partido socialista?

R – Isso é mentira! Não fizemos mais listas porque não conseguimos e houve outras que não fizemos para não dividir ainda mais as pequenas aldeias.

P – O que é para si um bom resultado nestas eleições?

R – Era ser eleito vereador, esse é o meu objectivo. Já que cá estou, não vou baixar os braços.

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