Há muito, muito tempo, diria mesmo em… 1900, pouco se falava de turismo. Portugal iniciava a sua primeira infância no setor e os poucos turistas estrangeiros procuravam as praias do Estoril ou as estâncias termais. Na Guarda, os primeiros relatos de turismo surgiam pouco depois das linhas de caminho-de-ferro, com os jornais a anunciar algumas viagens, havendo ainda visitantes que procuravam o ar para se recuperar das doenças do foro respiratório.
Em 1950, cinco décadas depois, o panorama já era bem diferente: a inauguração do Hotel Turismo, em 1942, e a identificação das potencialidades da Guarda traziam visitantes à cidade. Já na altura se verificava o que de bom havia para oferecer: o clima e o ar puro, a pacatez da cidade, a paisagem, a neve no inverno e o clima quente de Figueira de Castelo Rodrigo e Foz Côa no verão, e os monumentos artísticos (toda uma rede rural e urbana de pelourinhos, castelos, casas senhoriais, além da sé da Guarda, a Praça Velha, o museu e a igreja do Mileu),suportados por uma rede de caminhos-de-ferroe estradas internacionais. Não admira, pois, que o fervilhar da cidade desse origem a outros novos edifícios ao longo da década de 50.
Avançando novamente 50 anos, chegamos a 2000.A parte mais onerosa do trabalho estava já feita: a criação de infraestruturas de acolhimento e de vias de comunicação, a aposta em melhorar a qualidade, a perceção das capacidades turísticas da área dos vinhos, o turismo de neve, criaram a definição do turismo tal como o conhecemos. No entanto, a atividade turística ainda está longe de ser perfeita e de ser um dos principais criadores de riqueza e dinamização na região. O que falta?
Desde logo, a criação de um turismo em rede, aproveitando um pouco de cada vertente para criar uma visita geral de potencialidades, ou aproveitando vários serviços e produtos para criar uma visita numa área temática. A título de exemplo, não temos verdadeiramente criada e principalmente divulgada a nível nacional e internacional uma rota gastronómica e de vinhos, uma rota da natureza, uma rota etnográfica, rota dos museus e do conhecimento, do património judaico ou arquitetónico, do desporto natureza, da observação de aves. E na região é possível todo o tipo de turismo, algo que o litoral nunca poderá garantir.
Tudo começa com pequenos passos, mas se olharmos a realidade do concelho… muitos deles ainda não foram dados. Vejamos o centro histórico a carecer de dinamização, de juventude, de associações e de residentes. Como seria bom imaginar um centro vivo, com ruas a cheirar aflores e sabão, com gente vaidosa das suas casas, ao invés dos vestígios do excesso alcoólico das noites anteriores.
Como seria bom imaginar um grande espelho de água como é a barragem do caldeirão, cheio de barcos a remos, caiaques, pessoas a nadar e a refrescar-se nas suas margens, um restaurante, ou simplesmente café e uma esplanada, que até poderia ser em construção de madeira pré-fabricada, em completo respeito pela natureza, com famílias inteiras a divertirem-se. No inverno, a mesma estância serviria de centro de partidas para caminhadas com paisagens deslumbrantes e desportos aquáticos de competição.
Como seria bom ir a um dos pulmões da cidade – o parque municipal, e encontra-lo cheio de vida, com feiras regulares com artesanato variado, livros, objetos usados, as chamadas vendas de garagem ou feiras solidárias, quiosques e recinto de exposições dos mais diversos temas.
Com um crescente desenvolvimento turístico da cidade e do distrito, não seria difícil imaginar o turismo em 2050. A cidade seria tão dinâmica, que os turistas viriam para visitar e participar nas inúmeras atividades do centro nacional bioclimático, aberto não só aos que procuravam tratamento, como lazer, exposições e workshops. A beleza do Vale do Mondego iria atrair milhares de pessoas para caminhar ao longo do rio e ficar alojadas nas diversas casas turísticas, divertindo-se na rota dos vinhos da região e dos pratos com azeite do Mondego. E quantos outros panoramas não seriam possíveis na cidade e no distrito?
Pensar o turismo em 2050 pode não ser exercício fácil, tanto mais com o atual panorama económico. Mas urge pensar no que deve ser feito até lá. A cidade não pode morrer e cada um deve dar o seu contributo de forma a trazer visitantes todos os anos.
Ah! Se eu pudesse contribuir para que se falasse da Guarda até 2050…
Por: Luís Celínio Antunes *
* Presidente do Clube Escape Livre