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A Guarda à beira do abismo

Provavelmente, e tal como eu, muitos Guardenses ficaram surpreendidos com a notícia de 1ª pagina da edição do Interior nº 241. Surpresos naturalmente, pois os consecutivos adiamentos das obras tornam céptico o cidadão mais crente.

Finalmente o monstro adormecido acordou e vai contribuir para relançar a cidade da Guarda na senda das cidades desenvolvidas do interior. O moribundo Centro Histórico, vai sair do longo coma e vai berrar tão alto que o seu eco vai eclodir por esse pais. A operação a que vai ser sujeito, não só vai colocar a cidade da Guarda no pelotão da frente e quem tiver pedalada que nos acompanhe.

É o que levaria a crer o texto da 1ª página, pois o que consta na página 5 é que a operação é de cosmética. Só vão esticar as peles ao moribundo. É tudo exterior e como factores de dinamização o essencial vai faltar. Para mim é claro que os cirurgiões não estão à altura da operação e na melhor das hipóteses o coma do doente vai continuar.

Será que o cirurgião chefe não aprende nem com o exemplo das práticas feitas nas cidades ao lado, onde o sangue, que são os cidadãos, fervilha na urbe?

Será que ninguém dá conta, que a cidade da Guarda (olhe-se para os domingos) está-se a transformar literalmente numa aldeia?

Será que ninguém entende que um Centro Histórico sem estacionamento, que é o que está previsto no projecto que agora se quer implementar, é como uma bicicleta sem pedais, não serve para nada?

Será que nem com os erros do passado recente, nada se aprende? Nada se aprendeu quando se construiu o edifício da Câmara Municipal e se ignoraram os alertas da necessidade da construção do parque de estacionamento que a centralidade do lugar exigia?

Será que ninguém visita ou visitou nenhuma cidade do interior, com quem a Guarda quer ombrear, todas elas com um ou dois parques de estacionamento subterrâneo, com a centralidade que as técnicas de gestão de tráfego exigem?

Será que ninguém repara que na cidade da Guarda existe um incomensurável nº de espaços comerciais que não se conseguem vender, nem trespassar?

Será que ninguém foi, por exemplo, à cidade de Bragança (25 000 habitantes) e constatou que existem dois parques de estacionamento subterrâneos – um com cerca de 400 lugares e o outro com mais de 200 lugares de estacionamento – que o centro Histórico fervilha de actividade e que não existem espaços devolutos?

Será que o planeamento de todas estas cidades está errado e o “feito” para esta cidade está certo?

Será que os que advogam que as pessoas estão mal habituadas e há que andar a pé, não vêm que querem transformar nem que seja contra a sua vontade, os peões em caminhantes?

Eu advogo que a continuação destas práticas, conduzirão a Guarda definitivamente ao abismo.

Luís Soares, Engenheiro Civil e comerciante no Centro Histórico

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