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A fome, trinta anos e muitas melhorias depois

Trinta anos depois do 25 de Abril de 1974, Portugal é um país completamente diferente. Desde logo, existe uma democracia parlamentar, solidamente enraízada. Depois, houve avanços inquestionáveis na descentralização do Estado e no avanço do poder autárquico, que possibilitou a criação de inúmeras infra-estruturas de saúde, de educação e de cultura no interior do país. E, finalmente, existem melhorias indiscutíveis nos indicadores económicos e sociais: PIB «per capita» (que subiu de 54% da média da União Europeia para mais de 70%), taxa de mortalidade infantil (que desceu drasticamente), esperança de vida à nascença (que subiu 10 anos), explosão na taxa de escolaridade, mais de 400.000 alunos no ensino superior, hospitais um pouco por todo o país, etc, etc.

E no entanto, há uma chaga social que não conseguimos resolver: mais de 200 mil pessoas passam diariamente fome em Portugal, um milhão vive em situações de extrema dificuldade, dois milhões estão no limiar da pobreza. Os dados, revelados pelo «Público», mostram que os sucessivos Governos falharam no combate a esta realidade e, mais grave, não o colocam hoje no centro das preocupações.

Há economistas que aceitam como uma fatalidade «as vítimas do progresso», franjas sociais que ficam à margem da melhoria geral do bem-estar da população. Mas não nos podemos conformar quando sabemos que há quem não coma nem tenha pão para dar aos filhos.

O estado já provou que não consegue resolver, por si só, o problema. As instituições de solidariedade social têm feito um enorme esforço para ajudar estas pessoas. Mas é também necessário o trabalho de cada um de nós. Há que fixar o objectivo de, em 2010, ninguém passar fome em Portugal. Se o conseguirmos, não ficaremos mais ricos. Mas teremos mais orgulho em ser portugueses.

Por: Nicolau Santos

Rede Expresso

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