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A Floresta nos II e I milénios a.C.

Nos Cantos do Património

Temos abordado nesta coluna as sociedades humanas da Idade do Bronze e da Idade do Ferro, a forma como viviam, como se organizavam, quais as suas actividades. Contudo, os modelos propostos não podem desprezar o meio ambiente envolvente aos povoados, que certamente influenciaram estas comunidades.

Conhecermos a flora do II e I milénios a.C. é uma tarefa árdua. Em parte pelas profundas alterações que se verificaram ao longo dos tempos, devido à acção humana e às alterações climáticas.

Certamente a influência do Homem no meio ambiente que envolvia os povoados foi incisiva, resultante da necessidade de conquistar mais espaço para o cultivo de cereais e para o pastoreio. A atestar esta acção destacam-se os machados encontrados em diversos povoados cuja função seria o abate de árvores.

Mas que árvores seriam estas? Como eram as florestas que rodeavam os povoados?

Uma das formas de conhecermos o cenário envolvente resulta da recolha de sementes em escavações arqueológicas, posteriormente analisados em laboratório. Uma outra encontra-se relacionada com a realização de estudos palinológicos, ou seja, o estudo de pólens e esporos recolhidos em sondagens e analisados estratigraficamente.

Um dos locais onde tais sondagens foram realizadas correspondeu à Serra da Estrela, permitindo aos investigadores da área um conjunto de informações essenciais sobre a flora e o Homem, destacando-se os trabalhos de C. R. Janssen e R. E. Woldringh. Assim, através da contagem de pólens é possível reconstituir a cobertura vegetal ao longo da História.

Durante um longo período o carvalho era uma das espécies dominantes na Serra da Estrela, salientando-se ainda o pinheiro, o vidoeiro e a presença esporádica de aveleira e amieira.

Principalmente na segunda metade do II milénio e durante o I milénio a.C. os pólens registam que se verificaram algumas alterações, destacando-se a presença de urzes (ericaceae), oliveira ou zambujeiro (olea) e diversos tipos de cereais.

É possível que estas alterações na floresta se encontrem relacionadas com a actividade humana, nomeadamente uma desflorestação através de grandes incêndios, sendo que um dos maiores ocorreu por volta de 1250 a.C. A partir deste período registaram-se mais pólens de vidoeiro, bem como um aumento significativo de pólens de centeio. As zonas de vale eram ocupados pelos carvalhos, denunciando fraca actividade humana nesta área.

Desta forma, torna-se evidente que a interdisciplinariedade, com a conciliação de dados obtidos de distintas áreas do saber, poderá contribuir para o conhecimento da evolução da ocupação humana no território que ocupamos actualmente.

Por: Vítor Pereira

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